São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996
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A solução Serra

LUÍS NASSIF
A SOLUÇÃO SERRA

A indicação do ministro do Planejamento, José Serra, para candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo era uma daquelas soluções inevitáveis para todas as partes.
Para o partido e o governador Mário Covas, porque, sem Serra, o PSDB não daria nem para o começo.
Para o governo federal, porque as eleições paulistanas vão ter um sabor de plebiscito do Plano Real.
Para o próprio Serra, porque, manietado pelo estilo centralista-indeciso do presidente da República, continuaria marcando passo no ministério. Agora, vencendo as eleições municipais, daqui a dois anos pode se habilitar à sucessão do próprio Covas.
E também para o Real como um todo, já que o provável substituto de Serra, deputado Antônio Kandir, é homem de capacidade operacional comprovada e conhecimento profundo dos óbices burocráticos que impedem a implantação de um ambiente competitivo na economia.
Além disso, não tendo a dimensão política de Serra, certamente Kandir terá mais espaço para evoluir em um ambiente no qual a ciumeira pessoal tem peso muito grande nos processos de decisão.
Xadrez da sucessão
Os lances das eleições municipais de São Paulo têm como pano de fundo a emenda da reeleição -segundo líderes nacionais do PFL.
Tanto o prefeito Paulo Maluf (PPB) quanto o governador Mário Covas (PSDB) são nomes quase certos para a sucessão de Fernando Henrique Cardoso.
Ao cooptar o PFL paulista, a intenção de Maluf seria, num primeiro momento, envenenar a aliança nacional com o PSDB e inviabilizar a emenda da reeleição. Com FHC fora do páreo, lideraria a aliança com o PFL, trazendo um nome do partido para vice, comendo pelas bordas as lideranças tradicionais do PFL.
É evidente que são análises parciais, condicionadas pelos interesses em jogo. Mesmo assim, são relevantes para entender o estado de espírito atual e indicar os próximos lances desse jogo.
Na avaliação desses estrategistas, os últimos episódios da sucessão paulista suscitarão um fortalecimento da aliança pró-reeleição, tendo numa ponta os elementos do PFL contrários à intrusão de Maluf e na outra os deputados do PSDB contrários à candidatura de Covas.
Nesses setores, há uma tentativa explícita de menosprezar a capacidade estratégica de Maluf.
Há longo histórico de lances ousados malsucedidos reforçando essa interpretação -como o apoio a Figueiredo, a Collor, quando seu governo fazia água, e a FHC, quando os índices de popularidade começavam a cair.
Ciranda
As relações de causa e efeito entre o aumento do déficit público e a ciranda financeira dos anos 80 -mencionadas na coluna de ontem- já haviam sido exemplarmente dissecadas pelo economista Teotônio dos Santos, em artigo recente na "Gazeta Mercantil".

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