São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996 |
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Diretor mostra uma guerra atual
INÁCIO ARAUJO
Cada vez mais, a Espanha parece conter o coração do século, e não apenas das esquerdas (sem desmerecer a amplitude da Revolução Russa). É que na Espanha, aparentemente, estávamos no pleno território das idéias. Há um quê gratuito nas guerras civis. Elas expressam interesses conflitantes, mas existe ali um enorme investimento passional. Daí a mítica da Espanha ser antes de tudo romântica: liberdade, justiça, amizade são aspectos mais evocados que as questões diretamente políticas. Ken Loach busca, primeiro, situar a guerra neste âmbito. Destaca seu caráter internacional: pessoas de diversas partes do mundo vieram ali lutar. Mas esse encontro tem um quê simpático de piquenique. A nacionalidade, as diferenças de língua, são superadas por afinidades que começam ideológicas e acabam epidérmicas. Ao mesmo tempo, existe a luta. E, com ela, a morte, as traições e privações que terminam por atingir os combatentes e determinar seus destinos. Aqui, Loach nos introduz a uma guerra puramente física, em que podemos quase sentir o impacto de um tiro de fuzil ou a explosão de uma granada. Por fim, este é um filme de esquerda. Parte de uma época de crise e analisa a derrota das esquerdas. Seu parti-pris anti-stalinista é claro: é Moscou -a falta de generosidade, o autoritarismo etc.- que põe fim à solidariedade, elo entre as correntes antifranquistas. Este é também um filme sobre a Comunidade Européia, sobre um tempo em que contradições parecem ter-se dissipado. Seria isso? Ou a guerra na Espanha ainda existe? Essa questão faz de "Terra e Liberdade" um filme político e engajado de uma pertinência e de uma inteligência exemplares. Filme: Terra e Liberdade Direção: Ken Loach Elenco: Ian Hart, Rosana Pastor Quando: estréia amanhã Texto Anterior: Disco foge do rock datado Próximo Texto: Carlinhos Brown se apresenta na França Índice |
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