São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996
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Conflitos entre judeus devem crescer

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Uma eventual vitória do trabalhista Shimon Peres pode preanunciar avanços na paz com os árabes em geral, mas pode ser também a ante-sala de conflitos entre os próprios judeus.
É o que se deduz da primeira tarefa que o premiê, se reeleito, vai ter de enfrentar: a retirada das forças de segurança israelenses que protegem os colonos judeus de Hebron, no sul da Cisjordânia, onde vivem 52 famílias de colonos cercadas por 120 mil palestinos.
Sem a proteção dos soldados israelenses, a vida desses colonos estará em risco permanente, a menos que eles também sejam retirados, o que só acontecerá se o governo empregar a força.
É isso que o governo Peres planeja fazer. A "equipe dos cem dias", o grupo encarregado de elaborar as providências iniciais do governo trabalhista, prepara planos para enfrentar os colonos no caso de a retirada deles se tornar inevitável, como tudo indica.
Consequência, na avaliação de David Newman, professor da Universidade Ben-Gurion:
"Qualquer tentativa de remover essas comunidades encontrará oposição física dos colonos e dos que os apóiam", disse.
"Os traumas da retirada das colônias nos aguardam na primeira esquina, enchendo-nos de temor de previsíveis cenas de violência entre judeus."
Peres, por mais prudência que queira demonstrar, confirma que a retirada das tropas israelenses será feita (já está atrasada, aliás, pois deveria ter ocorrido em março).
"Estamos comprometidos com acordos com os palestinos e vamos levar adiante essa parte do acordo", diz o primeiro-ministro.
Anexação
Resta saber se os palestinos concordarão com a segunda parte do plano de Peres para as colônias.
É a anexação ao território israelense de 11% da Cisjordânia, de forma a permitir que 90% dos cerca de 140 mil colonos judeus permaneçam onde estão.
Mesmo assim, retirar 14 mil colonos, fanatizados e certos de que cumprem uma missão religiosa, não ocorrerá sem traumas.
Outra idéia criativa de Peres a ser submetida aos palestinos diz respeito a Jerusalém.
Os palestinos reivindicam a parte oriental da cidade de 3.000 anos como sua capital.
Peres lhes vai oferecer áreas nas imediações de Jerusalém, hoje já sob gestão autônoma da Autoridade Nacional Palestina, para nelas instalar sua capital.
Terror
Quanto ao terrorismo, permanente fantasma sobre o Estado judeu, Peres aposta em duas coisas.
A longo prazo, chegar a um acordo com os palestinos e com os países árabes moderados, para minar as bases políticas de sustentação do terrorismo.
Até lá, "começar a cooperação norte-americana conosco na guerra contra o terror".
A pressa em iniciar tal cooperação é tanta que, mal os dois canais de TV divulgaram os resultados da boca de urna, os trabalhistas se apressaram a avisar Washington.
A resposta do governo norte-americano foi de "satisfação", anunciaram os trabalhistas à TV local.

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