São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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Porta-voz

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem Alexandre Garcia, em áureos tempos de porta-voz, chegou a tanto.
Arnaldo Jabor já vinha em crescente de oficialismo, à cata dos inimigos de FHC. Exemplos, entre muitos, desde a semana passada:
- Estes sujeitos que estão no Congresso, eles não vão votar reforma nenhuma. O Executivo já tentou tudo. Não adianta. Os ruralistas não deixam, a oposição sabota, os mineiros exigem grana para empresa.
- É um absurdo que o Executivo seja culpado por tudo o que ele não consegue fazer porque os outros poderes não permitem.
- Existe no Brasil um massacre que ninguém condena, e quem o aponta é chamado de vendido e reacionário. Essa chacina é a brutal oposição que a velha esquerda tem feito às alianças do governo, em busca de reformas.
Aos poucos, o Congresso tornou-se fixação, a ponto de tomar todo tema por deixa. Até Fernando Gabeira:
- "Que horror, maconha", grita o Congresso. Só que, quantos congressistas haverá que são viciados em birita, em Valium, em jabá?
O auge veio na madrugada de ontem, na Globo. Trechos, a que nem Alexandre Garcia se atreveria:
- Vão criar um novo centrão, que vai reunir os deputados que se unem por interesses profundos, tais como venda de votos em troca de cargos, defesa de corporações, de empreiteiras, ruralistas, evangélicos, todos. A política vai mostrar que Congresso também é mercado.
- Com o tempo o centrão poderá expandir suas atividades e virar shopping center... "Venha você também conhecer o novo centrão de negócios. O supermercado da política nacional."
No supermercado, claro, ameaçaram com o fim da liberdade de imprensa.
E Jabor respondeu, com desdém, escudado na Globo, "eu estou com medo da minha responsabilidade".

E-mail nelsonsa@folha.com.br

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