São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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Dinheiro de mentira ajuda menores

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Programa prevê que motoristas de SP dêem "um legal" a crianças nos semáforos Dinheiro de mentira ajuda menores
O governo de São Paulo lança hoje o projeto "Criança Legal", o maior programa deste ano na área de atendimento a menores de rua.
O carro-chefe do programa será o "legal" -um dinheiro fictício, com cédulas no valor de "um legal", que será distribuído em postos de combustíveis e na compra de botijões de gás.
O usuário do posto -no caso o do Hudson, um dos patrocinadores da iniciativa- enche o tanque do carro (tem de colocar mais de 20 litros) e recebe a nota de um legal. Na compra de um botijão de gás da Copagás -outro patrocinador-, também será entregue um legal.
Caso a pessoa que possua o legal seja abordada em um semáforo, por exemplo, por uma criança de rua, ele entrega ao menor o "dinheiro". De posse do legal, o menor se dirige ao SOS Criança e o deposita em uma agência bancária dirigida por educadores.
Ao entregá-lo, a criança recebe um crédito de 20 legais. Com esse "dinheiro", o menor pode tomar lanche (um legal), passar pelo dentista (dois legais), assistir a vídeos (um legal), comprar uma cesta básica (dois legais), entre outras atividades e mercadorias.
A criança poderá aumentar sua conta bancária. Para isso terá de participar de atividades e tomar iniciativas que rendam créditos, como cursos (30 legais), volta ao lar (50 legais), trabalho voluntário interno (dez legais) e não-retorno à situação de rua (dez legais).
Os menores receberão um talão de cheques, que usarão para pagar as atividades que escolherem.
Banca legal
Além de divulgar esse projeto, o governador Mário Covas inaugura hoje a "Banca Legal". Trata-se de um local -semelhante a uma banca de jornais- destinada ao atendimento de crianças de rua.
A primeira das 12 bancas -que contam com patrocínio da Coca-Cola, Hudson, Copagás, Shuchard, Eldorado, Xerox e Pró-Vida- funcionará na avenida Paulista, em frente ao colégio São Luís.
Cada banca terá cinco educadores, um psicólogo, um atendente, computador, telefone e um carro.
Os profissionais serão responsáveis pela região de sua banca. Eles farão rondas para recolher, cadastrar e iniciar a assistência aos menores de rua.
O coordenador do SOS Criança, Paulo Vitor Sapienza, disse que o governo investirá cerca de R$ 12 milhões, este ano, nos novos projetos para crianças de rua. A iniciativa privada, segundo Sapienza, entrará com cerca de R$ 500 mil.
Ele afirmou que os novos projetos deverão ampliar o atendimento no SOS Criança, este ano, de 3.800 menores/mês para 12 mil menores/mês.
Ele alegou que o legal não provocará aumento de crianças nos semáforos à procura da cédula, porque cada menor terá direito ao início atendimento no SOS Criança com apenas um legal.
"Pretendemos acabar com a indústria da esmola em São Paulo", disse Sapienza.
Inicialmente, serão distribuídos cerca de 1 milhão de cédulas de um legal. A assessoria da Polícia Militar disse que a corporação não comentaria a possibilidade de concentração de menores com o lançamento do legal porque não tinha informações sobre o projeto.

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