São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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Serra topa concorrer para não morrer de tédio

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Me dá calafrio, tontura e tremilique só de pensar na tal reunião no Palácio dos Bandeirantes, onde o pau comeu solto até a alta madrugada entre José Serra e o alto tucanato, que tentava convencer o ministro a sair candidato à prefeitura paulistana.
Já pensou aquela tucanada toda subindo e descendo muro, subindo e descendo nas tamancas? Só tomando plasil.
Até o Montoro acertar o nome do ex-ministro, deve ter levado entre duas e três horas: "Mas, ministro Machado..." E o Serra: "É Serra, deputado". "Sim, claro, como não. Mas viu, ministro Sardinha..." E o Serra, de novo: "É Serra, deputado". "Pois não. Mas sabe, ministro Monte Alegre..."
Dizem que o Covas usa uma tática infalível: costuma vencer os interlocutores pelo cansaço. Reunião com o governador só termina quando todo mundo cai no sono.
Já imaginou o suplício? "b, Serra, deixa disso, você tem de sair candidato porque nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó, nhó...". Ou seja: o Serra só aceitou porque senão morria de tédio.
Mas que maldade esse pessoal sair dizendo que se o Serra não quer São Paulo, São Paulo também não o quer.
Porque cargas d'água o Serra iria querer governar a maior cidade do hemisfério sul, se pode ser útil em cargos mais adequados à sua personalidade? Afinal, a saúde do papa não anda lá essas coisas e o Boris Ieltsin também não está com essa bola toda nas pesquisas de intenção de voto.
Mas, uma vez candidato, Serra entrou com tudo no páreo. Pudera. O Pitta não apita, a Erundina vai perder um tempão ensinando o Mercadante a amarrar os cadarços do sapato e o Francisco Rossi parece maior abandonado.
E se o Serra for eleito, a maior obra dele será o quê? Um muro? O Maluf ensinou a gente a se divertir andando em túnel. Com governo federal, estadual e prefeitura na mão dos tucanos, o paulistano ganhará mais um passatempo eletrizante: subir e descer do muro.
Mas uma coisa o Serra já deve estar computando como certa: o voto dos meus colegas.
O que o Serra se dá bem com jornalista não está no gibi. O homem gosta tanto, mas tanto da categoria, que frequenta redação e festa de jornalista com maior assiduidade até do que assessor de imprensa.

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