São Paulo, sábado, 1 de junho de 1996 |
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Fifa 'reparte' Copa 2002 no Oriente
SÍLVIO LANCELLOTTI
A determinação, adotada um dia antes do previsto para a reunião do Comitê Executivo da entidade, nasceu de um brilhante acordo de bastidores alinhavado por Lennart Johansson, da Uefa. Perde o Japão, favoritíssimo dos especialistas, que lhe concediam 15 dos 21 votos do comitê. Perde, dramaticamente, João Havelange, presidente da Fifa, enredado na armação formidável de Johansson, candidato a sucedê-lo nas eleições de 1988. Havelange queria a Copa de 2002 no Japão. Instabilidade Por causa da instabilidade política da Coréia do Sul, devido a seus entreveros de fronteira com a Coréia do Norte, vários dirigentes da Europa também consideravam mais segura a escolha do Japão. Agora, estão em jogo o trono do futebol e o controle de um negócio em torno de US$ 25 bilhões. Enquanto alguns cartolas da Europa declaravam temerosos da entrega da Copa à Coréia do Sul, o sueco e seu grande escudeiro, o alemão Gerhard Aigner, tramavam a demolição de Havelange. Quando Johansson sugeriu, em maio, a necessidade de um acordo entre os dois países, o secretário-geral da Fifa, o suíço Sepp Blatter, desprezou a possibilidade -"uma manobra diversionista". Foi erro de cálculo. A Europa conta com oito membros no comitê. Além disso, coube a Antonio Matarrese, vice da Fifa, influenciar os três da África, seus aliados. Informação fatal Na manhã de quinta-feira, Havelange recebeu a informação fatal. A Uefa proporia, na manhã de sexta, uma mudança crucial nos regulamentos da Copa, que exigiam apenas uma pátria como sede da competição. Formalizada a modificação, a Uefa oficializaria a sua proposta de um acordo. Takeshi Naganuma, o presidente da Federação do Japão, ainda resistiu por algumas horas. Por volta do meio-dia da quinta, a Fifa pediu uma conferência entre enviados da Coréia e do Japão. Participaram do encontro dois ex-primeiros-ministros, o japonês Koishi Miyazawa e o sul-coreano Lee Hong Koo. Ambos ofereceram à Fifa garantias de que seus governos se entenderão na montagem logística do torneio. A entidade, então, designou três cartolas para estudar os óbvios problemas que surgirão: Matarrese, o mexicano Guillermo Cañedo, leal a Havelange, e o suíço Blatter, leal a si mesmo. Terão a Coréia e o Japão o direito automática de participação? E onde acontecerá a fina da Copa? São problemas delicadíssimos. Bem mais grave, porém, fica a situação de Havelange, que manteve a sua coroa. No seu trono, contudo, hoje senta-se a Europa inteira. Próximo Texto: A Copa unificada de 2002 Índice |
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