São Paulo, sábado, 1 de junho de 1996
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Leary moldou as imagens dos anos 60

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Professor de Harvard e "messias" da era psicodélica, Timothy Leary foi, em uma metáfora tipicamente americana, o homem certo no momento correto.
Seu envolvimento como propagandista dos efeitos "expansivos", para a mente, das drogas alucinógenas, o levou de encontro às aspirações de jovens americanos que se já não se contentavam, como seus pais antes deles, com a opulência econômica da América.
Uma espécie de "proto-hippie"-Leary era mais velho, e possuía uma formação acadêmica mais sólida que a "trupe" que o acompanhava-, seu trabalho foi o de transformar uma questão social -a droga- em uma atitude política. E cultural.
Depois do LSD, acreditava ele, as pessoas (e o mundo) não poderia permanecer o mesmo.
Mas, para surpresa, nada mudou com a radicalidade que esperava. Seus vários livros em defesa dos alucinógenos foram considerados uma piada (de terrível gosto) na comunidade científica.
A grande vingança de Leary foi ter sido recebido como herói por todo aquele que não estava mais interessado em ciência. Mas, sim, em revolução.
Assim como os Beatles, cores berrantes, Califórnia, Jimi Hendrix, Paris, Mao Tsé-Tung e Jean-Luc Godard, Leary e suas idéias "loucas e doentias" ajudaram a moldar a imagem de uma das décadas mais mitificadas do século 20. Os adorados, e ainda assim confusos, anos 60.
Ícone de todos aqueles que permaneceram -ainda que à custa da própria sanidade- fiéis aos ideais do período, Timothy Leary abandonou sua pregação psicodélica nos anos 80 para mergulhar na cultura dos computadores, a "Cyberculture".
A modernidade, para seus olhos, se apresentava como um fenômeno rigorosamente virtual. E os computadores assumiam o papel que uma vez pertenceu ao LSD. O de vencer qualquer barreira física imposta ao homem pela natureza.
Assumindo o papel de herói para a geração Internet, Leary ajudou a propagar a panacéia tecnológica, trocando uma utopia por outra.
Desejou morrer online, publicamente, afirmando que a morte era "apenas mais uma experiência". Mas, talvez para sua grande surpresa, o fim aconteceu. Não há nada de virtual na realidade.

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