São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
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Fonte do mal

MARCOS CINTRA

Enredado na equivocada sustentação do Real, o governo não põe ordem em suas contas, para soltar o freio e abrandar a recessão em que jogou a economia brasileira.
As tarifas públicas, até a troca da moeda, eram reajustadas acima da inflação. Esperavam-se monopólios estatais com preços estáveis. Isto não aconteceu. Contra uma inflação de 4,1% em 1996, o preço da energia elétrica subiu 26%; o da gasolina e do álcool, 13% e 14%; e o dos serviços telefônicos, cerca de 85,5%.
Ainda em março, alertávamos sobre a inconveniência de aumentar os preços da gasolina e da energia elétrica, porquanto estes, além de causarem forte impacto nos custos industriais, são emblemáticos na cultura inflacionária brasileira. O impacto não se fez tardar, como provam as pressões iniciadas para elevar os preços do transporte coletivo.
Para o salário mínimo, 12%, ante IPC acima de 20%. Para as empresas, política monetária e cambial restritivas. Para as estatais, a compensação tarifária. Para o setor privado e a sociedade, ajuste severo, recessão e desemprego. Para o governo e suas empresas, a comodidade do déficit público, do endividamento, do aumento de impostos e tarifas, enquanto, inerte, assiste ao bloqueio, no Congresso, das reformas estruturais. Ora porque os projetos são mal formulados, ora porque contrariam interesses setoriais, políticos e corporativos, cujas resistências se alimentam de sua baixa qualidade.
Como se vê, o governo, paralisado, tem-se constituído na fonte de tudo que é danoso para a economia brasileira.

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