São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
Próximo Texto | Índice

Alex divide neurologistas

IGOR GIELOW
DE LONDRES

O estudo da dominância dos hemisférios cerebrais começou há cerca de cem anos e se desenvolveu basicamente a partir da análise do efeito de lesões sobre áreas determinadas.
A partir da dissecação de cérebros de vítimas de derrames, por exemplo, determinou-se que um efeito como a afasia (perda de voz) estava ligado à lesões no lobo esquerdo.
No caso de Alex, a maior dúvida sobre sua evolução pós-operatória é a seguinte: 93% das pessoas são destras e, destas, 99% concentram toda a linguagem no lado esquerdo do cérebro. E se Alex fosse apenas canhoto e com dominância direita?
Para John Marshall, da Universidade de Oxford, há a possibilidade de a retirada do córtex esquerdo apenas ter aberto caminho para uma capacidade que já estava lá, no lado direito.
Faraneh Vargha-Khadem, que trata o garoto, discorda. "Se Alex tivesse dominância direita para a linguagem, já a teria desenvolvido antes ou, pelo menos, já teria falado quando saiu da mesa de cirurgia".
O lado esquerdo do cérebro, além de concentrar os principais centros lógicos da fala, é responsável pelo raciocínio digital -aquele que usa números como base de comparação.
Alex, segundo dados da pesquisa ainda inédita sobre o seu caso, não estava habilitado a usar esse tipo de raciocínio. No lado direito do córtex se concentra o chamado setor holístico, que apreende as coisas de uma só vez, levando, por vezes, a conclusões divergentes sobre um mesmo assunto. Por isso, se apenas ele funciona, as frases saem desconexas e ocorre confusão mental.
(IG)

Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.