São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
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Ministro do Líbano teme políticas do Likud

IGOR GIELOW
DE LONDRES

O governo libanês "vê com apreensão" a eleição de Binyamin Netanyahu em Israel, segundo um de seus articuladores políticos, o ministro Abdul Mourad (Formação Profissional).
Por telefone, de Chtaura (Líbano), ele disse à Folha que o processo de paz no Oriente Médio pode ficar comprometido se as políticas rígidas do Likud forem aplicadas.
Ele dividiu os problemas em três: relacionamento com os Estados Unidos, com os palestinos e com a questão sírio-libanesa.
Para Mourad, que morou 22 anos no Brasil, o presidente Bill Clinton (EUA) não vai querer nenhuma mudança no processo que usa como peça de sua campanha à reeleição. "Todos sabemos, porém, que o Likud pensa diferente do Partido Trabalhista."
"Já Iasser Arafat (presidente da Autoridade Nacional Palestina) está com problemas. Sua situação ficou muito ruim, uma vez que havia feito muitas concessões e, agora, não deve ter o troco esperado."
Em relação ao Líbano, que desde 1982 tem uma região no sul de seu território ocupada por tropas equipadas por Israel, Mourad prevê "tensão na fronteira".
Ataques da guerrilha fundamentalista libanesa do Hizbollah na região levaram a uma operação militar de Israel em abril, que deixou cerca de 170 mortos.
"Não dá para dizer o que vai acontecer, mas tudo depende do comportamento do Hizbollah", disse Mourad. No dia da eleição, soldados israelenses foram mortos por ataques da guerrilha.
"O dado principal é que o processo de paz não vai nem para frente nem para trás até a eleição dos EUA, em novembro. Aí veremos como vai ficar o discurso de linha-dura do Likud", afirmou o egípcio Ibrahim Karawan, doutor em história e responsável pela pesquisa sobre Oriente Médio do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, em Londres.
Os EUA subvencionam cerca de US$ 3 bilhões anuais a Israel.
Para Karawan, a eleição de Netanyahu "foi um duro golpe contra a paz" arquitetada a partir de 1992 na região.
Ele não crê em grandes alterações na conduta do Exército israelense em regiões como o Líbano.
"Sob Peres, houve a Operação Vinhas da Ira em abril contra os libaneses. Israel já é um Estado fortemente militarizado. O problema é se houver um reforço nos assentamentos judeus na Cisjordânia (como o Likud quer), ocasionando revoltas palestinas."
Segundo o historiador, uma revolta nos moldes da intifada (iniciada em 1987) poderia desencadear repressão militar e, provavelmente, o fim do atual estágio das negociações de paz.

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