São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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Trabalhador paga entidades patronais

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

As maiores entidades empresariais do país -que representam os interesses da indústria, comércio e transporte- sobrevivem de recursos repassados pelos fundos de assistência e formação do trabalhador: Sesi, Senai, Sesc, Senac, Sest e Senat.
Em 95, as entidades patronais receberam destes fundos pelo menos R$ 106 milhões em taxas de administração, fixadas por lei.
O Sesi (Serviço Social da Indústria) transferiu R$ 28,19 milhões para a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e pelo menos R$ 37 milhões para as federações estaduais.
O Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) repassou R$ 8,8 milhões para a CNI e R$ 3,73 milhões para as federações estaduais da indústria.
O dinheiro do Sesi e do Senai pagou 87% das despesas da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) no ano passado, 60% dos gastos da federação das indústrias da Bahia e cobriu pelo menos 77% do orçamento da Firjan, a federação das indústrias do Rio. A proporção é semelhante nos demais Estados.
Despesas
A CNI, órgão máximo de representação patronal da indústria, conseguiu cobrir suas despesas do ano passado apenas com os repasses do Sesi e do Senai. Ela recebeu R$ 36,99 milhões no ano passado e, segundo informou à Folha, teve gastos de R$ 36,1 milhões.
O mesmo fenômeno acontece com as confederações que representam o setor do comércio e o de transportes.
No ano passado, a Confederação Nacional do Comércio recebeu R$ 19,87 milhões para administrar o Sesc (Serviço Social do Comércio) e o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).
Com o dinheiro, a entidade não só cobriu seus gastos (de R$ 10,6 milhões) como fez caixa para prosseguir a construção de uma moderna sede em Brasília e para outros investimentos.
A CNT (Confederação Nacional do Transporte) está neste esquema há apenas dois anos, quando o então presidente Itamar Franco sancionou a lei que criou o Senat (Serviço Nacional de Aprendizagem dos Transportes) e o Sest (Serviço Social dos Transportes).
Dobro
A lei permitiu à CNT cobrar uma taxa de administração de 10% sobre os valores arrecadados pelo Sest e Senat.
Em 1994, os cofres da CNT foram irrigados com R$ 3,95 milhões vindos do Sest/Senat.
No ano seguinte, o valor passou do dobro (R$ 8,7 milhões) e, só nos primeiros quatro meses deste ano, já soma R$ 2,8 milhões.
O setor da construção civil, que integra o Sesi/Senai, tentou seguir os passos das empresas de transportes, mas não obteve êxito.
A CBIC, que sobrevive da contribuição sindical, tem um orçamento apertado: R$ 600 mil no passado, segundo seu presidente.
Sem a taxa de administração paga pelo chamado "sistema esse", as confederações da indústria, comércio e transportes teriam de sobreviver como a CBIC.

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