São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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Euforia dá nova cara ao palmeirense

Namorada de Amaral é alvo

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O sucesso recente, a tinta spray, o álcool e a euforia transformaram o rosto do palmeirense.
E, no meio do típico torcedor de traços italianados, aparecem todas as caras possíveis, como a de Juliana, namorada nipônica do volante Amaral.
Depois de passar invicta por uma dezena de bares da rua Turiassu, Juliana, vestindo uma colante camisa amarelo metálico, provocou um ímpeto apaixonado.
"Amaral é lindo, mas você é muito mais", expôs seus sentimentos o alviverde Ronaldo em perseguição a Juliana até o portão das tribunas do estádio.
Próximo dali, as feições humanas do torcedor ganham uma fisionomia suína na cara do torcedor Marcelo de Mendonça.
Com um focinho de porco feito de plástico, trazido da Bélgica, Marcelo desfila sua embriaguez.
"Tomei uma garrafa de uísque e três latinhas de cerveja. Estou tão bêbado que até comprei uma gravata do Palmeiras campeão por R$ 5,00. Um roubo", disse, já recuperando a consciência.
Motivos não faltavam para a bebida. Além da campanha do time, a oferta próxima ao Parque Antarctica também era motivo.
Em apenas dois quarteirões, sete bares: Xará, Elias, Verdão, Alvi Verde, Tutti Frutti, Demafran e Palmeiras Lanches.
Pelas ruas, a névoa do dia nublado se mistura com a fumaça das barracas de churrasquinho.
Muitos torcedores não dispensaram as tintas verdes e brancas na cara e no cabelo.
Eduardo Salvador, 25, e Cláudio Arturo Salinas, 22, vieram do bairro da Casa Verde com seus cabelos verdes, obtidos com um spray importado -custo de R$ 5,00 o tubo.
A perspectiva da vitória fez Roberto Bracci, paulistano radicado no Rio, trazer a mulher flamenguista Érica. "Vivo há sete anos no Rio e já transformei uns sobrinhos cariocas em palmeirenses", disse.
Vindos de bem mais perto do que o Rio (429 km de São Paulo), um grupo de torcedores interioranos demorou sete horas para atravessar os 177 km que separam Guaratinguetá de São Paulo.
"Paramos em todas as lanchonetes da estrada. Tivemos de aproveitar, já que a mulher liberou", disse Roni Lima, que deixou mulher e filhos corintianos em casa.
Eduardo Júnior, 24, bancário de Sorocaba virou um ninja com agasalho palmeirense de 91 (pré-Parmalat) e um gorro de lã.
Contrastando com tanta expansão, Daniel Gomes da Silva, 51, mostrava-se reticente com a possível consagração. "O palmeirense é um iludido: o time pode ganhar hoje, mas amanhã ele vai perder".

CONSUMISTA - A estudante Juliana Ribeiro Lima, 24, mostra porquinho de pelúcia e bexiga com símbolo do Palmeiras. Além desses produtos, ela comprou também uma bandeirinha para ir à partida com seu namorado. "Sou palmeirense há pouco tempo, eu aprendi a gostar", disse Juliana

PEREGRINOS - O palmeirense Roberto Bracci veio do Rio com a mulher, Érica, para a partida de ontem

FAMÍLIA - O pai Hubby Coppola, com o uniforme do Parma, da Itália, vibra com os filhos Marcos e Júlio

NINJA - O bancário Eduardo Júnior, 24, incorporou um guerreiro ninja com o agasalho da equipe. "O Palmeiras vai entrar para matar", disse

ÉBRIO - Daniel da Silva, 51, desaba de alegria e embriaguez. "Não sou palmeirense, eu sou mulherengo", explicou o cambista, antes do jogo

INTERIORANAS - Gleise Gonçalves, 14, e Regiane Miura, 18, saíram de Sorocaba às 13h30 para ver o tão esperado gol de Luizão horas depois

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