São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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São Paulo fecha o campeonato com dignidade

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O São Paulo, que vagou pelo campeonato como uma sombra daquele tricolor iluminado do início da década, encerrou sua participação com a dignidade de um campeão.
Sábado, diante do Mogi, nove contra onze, arrancou o empate de 1 a 1 no finalzinho, com toques épicos, e sagrou-se vice-campeão paulista.
O que não é pouco, neste torneio vestido de verde e branco desde o seu início.
O Mogi, muito bem armado, dominou praticamente todo o primeiro tempo, meteu 1 a 0, desperdiçou algumas chances e saiu de campo, para o intervalo, com a vantagem de um jogador a mais, pela expulsão do artilheiro Valdir.
Na volta, novo cartão vermelho, para Serginho, e um gol anulado que resultou na expulsão do técnico Muricy, seguido, mais tarde, por seu auxiliar, Altair Ramos. Resumindo: no campo, nove jogadores; no banco, só os reservas.
O que parecia o caos, a goleada inevitável, de repente, revela dois heróis.
No campo, o veterano Zetti assume o comando, reúne a tropa no tempo técnico, dá instruções, injeta ânimo nos companheiros, volta e fecha o gol.
No banco, o novato Rogério, reserva de Zetti, afasta imediatamente o preparador físico Altair, expulso pelo juiz, faz as substituições necessárias, e o tricolor parte para a conquista do vice-campeonato.
Foi um desses raros instantes mágicos do futebol, coroado pelo gol de Denílson, numa blitz irresistível do tricolor, que terminou com a bola varando as pernas do goleiro.
O Mogi foi um time acuado pela tradição da camisa de três cores que um dia ostentou o dístico de O Clube da Fé.
Resumindo: um time que tem no passado e no presente alguém como Zetti, e vislumbra, no futuro, alguém como Rogério, só pode mesmo ter fé na grande virada.
*
Por falar em futuro, alguém precisa dizer a Parreira que esse menino Denílson flerta com a genialidade. É ainda inconstante, atributo próprio dos adolescentes.
Segundo me dizia Muricy, às vezes tenta o drible quando deveria passar a bola; tenta o passe, quando deveria driblar.
Mas, o tempo todo, mantém com a bola uma comunhão de quem desde o berço dorme com ela agarrada ao peito, no dizer de Neném Prancha.
Suas passadas me lembram Jair Rosa Pinto; canhoto incorrigível, desenrola aos seus pés uma sucessão de fintas progressivas que me recordam Tupãzinho -o do Palmeiras.
Ao contrário dos seus dois antecessores ilustres, luta como ninguém pela recuperação da bola, revelando um senso de solidariedade incomum em craques dessa estirpe.
Enfim, é uma pedra preciosa que depende de rala lapidação. E muito apoio.
*
O mundo do futebol foi dividido pela primeira vez: metade, no Japão; metade na Coréia. Pode ser, sem dúvida, grande jogada de marketing.
Quem sabe, forma justa de atender a dois méritos: o esforço do Japão de implantar o futebol em seus domínios e a tradição dos coreanos no esporte.
Mas foi uma derrota de Havelange, que há anos renega o avanço e golpeia a tradição.

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