São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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Pilotos correm com a ajuda do micro

HEINAR MARACY
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um bom software já é tão importante em uma corrida de automóveis quanto um bom carro ou um bom piloto.
A telemetria, o uso de sensores para captar dados do carro e enviá-los para posterior análise em um computador, já virou lugar-comum nas equipes de corrida, do kart à F-1.
"Hoje, se você tem um sistema de captação de dados, só está se igualando a todos os outros corredores. Se você não tem, pode ter certeza que o pessoal vai largar na frente", diz Carlão Alves, piloto que está em segundo lugar no campeonato brasileiro de Stock Car.
"Ele é fundamental na hora de fazer acertos de motor e chassis e identificar mudanças de desempenho. É impossível um ser humano detectar uma melhora de um décimo de segundo, mas no painel aparece tudo", diz ele.
Custo baixo
A Delco Freedom, equipe de Alves, investiu cerca de US$ 7.000 em um equipamento de captação de dados fabricado pela companhia inglesa Pi Research.
"Comparando com os custos para se manter uma equipe de corrida, esse é um valor pequeno. O custo maior está na contratação e manutenção de um profissional que irá operar o micro e analisar os dados", diz Alves.
"É praticamente possível medir qualquer grandeza com o uso desses sensores", diz Luiz Felipe Coutinho Vargas, consultor da Amir Nasr Racing Team.
Segundo ele, os sistemas mais caros conseguem até colocar um sensor virtual no carro, chamado de Canal Matemático. Ele é uma simulação por software de um sensor implantado no carro, criada com a extrapolação dos dados obtidos por outros sensores.
Liberando aos poucos O uso da informática em corridas enfrenta, atualmente, um problema difícil de encontrar em qualquer outro setor.
Tecnologia demais pode atrapalhar, reduzindo o piloto a um mero operador de terminal e esfriando a emoção da corrida.
"Na F-1, eles tiveram de restringir o uso de alguns avanços tecnológicos, senão não haveria pista que segurasse aqueles carros", diz Adalberto Jardim, piloto de Stock Car que também usa o sistema da Pi Research.
Jardim adquiriu um sistema de telemetria mais sofisticado, ao preço de US$ 21 mil. O "PI-3 Plus" permite inclusive monitorar a suspensão do carro.
O sistema não pode ser utilizado durante a corrida, apenas em treinos particulares.
"Um sistema desses hoje é vital. Você pode até chegar às mesmas conclusões sem ele, mas vai levar muito mais tempo", diz o piloto.
Segundo Jardim, hoje a maioria das equipes de Stock Car brasileiras está utilizando sistemas de telemetria simples.
"Mas logo todos estarão passando para sistema mais sofisticado, que permitirá verificar a estabilidade do carro, volta por volta."
Para Jardim, é impossível barrar os avanços da tecnologia. "O que os organizadores tentam fazer é liberar essa tecnologia aos poucos, homeopaticamente, de forma que o conjunto das equipes permaneça homogêneo."

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