São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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Tibetanos são minoria em seu território

Chineses já somam 7,5 milhões

PEDRO NABUCO
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE DHARAMSALA

A invasão do Exército de Libertação Chinês ao Tibete, nas regiões adjacentes à fronteira, começou em 1949, ano em que os comunistas tomaram o poder. Em 1950, os chineses marcharam sobre a região central de U-Tsang.
Um tratado de amizade do ano de 821, esculpido em pedra em frente ao Jokhang -o templo mais sagrado para os budistas tibetanos-, estabelece o respeito mútuo e eterno das fronteiras.
Em 1951, a delegação tibetana em Pequim assinou o Acordo de 17 Pontos, em que abria mão de sua soberania. Em 1959, ano do levante tibetano generalizado, o Dalai Lama fugiu para o exílio na Índia e repudiou o acordo.
A Comissão Internacional de Juristas, entidade com status de consultora das Nações Unidas (ONU), estabeleceu um comitê de inquérito sobre o Tibete em 1959.
Relatório de 1960 definiria os atos chineses como "genocídio sistemático para extirpar a religião". Foram enumeradas violações a 16 artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
A Assembléia das ONU elaborou três resoluções sobre as violações dos direitos fundamentais no Tibete. Em 1970, a China foi admitida na ONU e no seu Conselho de Segurança, com poder de veto.
Destruição
Durante a Revolução Cultural, o período mais férreo do regime comunista chinês, a religião foi proibida e os 6.000 mosteiros e templos budistas foram destruídos pelos guardas vermelhos.
Apenas 12 foram preservados, a pedido do premiê Chou En-lai. A partir de 1979, começou uma reconstrução parcial e controlada.
Estima-se que 1,2 milhão (um quinto da população) de tibetanos morreram devido à ocupação, seja em consequência de torturas, maus-tratos, repressão a manifestações, execuções, fome, suicídio ou na guerrilha de resistência que se formou a partir dos anos 50.
Em 1989, o Dalai Lama recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua política de não-violência para a libertação do Tibete. A região está submetida ao regime comunista calcado no totalitarismo maoísta.
"Assunto interno"
O governo chinês afirma hoje que os tibetanos dispõem de liberdade e direitos humanos. Organizações não-governamentais como a France Libertés e Asia Watch documentam o contrário.
Para os chineses, o caso do Tibete é um "assunto interno". Pequim considera como "região autônoma" só a região central de U-Tsang. As Províncias de Kham e Amdo foram anexadas à China. As três regiões têm o tamanho da Europa Ocidental e ocupam área estratégica entre a China e a Índia (os países mais populosos do mundo).
A política de transferência populacional de chineses para o Tibete tornou os tibetanos minoria na "região autônoma" -estima-se que haja 7,5 milhões de chineses e 6 milhões de tibetanos.

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