São Paulo, terça-feira, 4 de junho de 1996
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Pessimismo sobre o Brasil afeta o dólar

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA*

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Cotação da moeda caiu no início do dia com declaração de economista de que crise ameaça o país

A cotação do dólar diante de outras moedas fortes caiu no mercado financeiro de Nova York ontem de manhã devido a declarações de Rudiger Dornbusch sobre o Brasil. Mas o dólar se recuperou logo.
A notícia de que Dornbusch havia previsto em conferência em Sydney, Austrália, que o Brasil pode entrar em crise financeira como a do México, mais uma reportagem publicada pelo "The Wall Street Journal" sobre o mesmo assunto, provocaram o nervosismo.
No Brasil, as declarações de Dornbusch provocaram, também, queda de 1,35% nos títulos da dívida externa brasileira. O governo negou qualquer possibilidade de crise (leia texto abaixo).
Especialistas do mercado dizem que os agentes se acalmaram com a avaliação de que, mesmo que Dornbusch estivesse certo, os efeitos de uma crise brasileira seriam menores do que a mexicana no ano passado, porque o peso brasileiro no comércio e no PNB dos EUA é menor que o do México.
Alerta
A reportagem do "Journal", o jornal de maior circulação nos EUA e o de maior influência sobre o mercado financeiro, ocupou o alto da página internacional.
Assinada pelo correspondente Matt Moffett, teve como título "Brasil alertado sobre a supervalorização da moeda". Ela se baseou em várias declarações de Dornbusch e de outros críticos da política cambial do Plano Real.
Um gráfico que ilustra a reportagem mostra que o custo de vida no Rio é superior ao de Paris, Londres e Nova York, entre outras cidades, e que a inflação "se mantém como uma ameaça".
Questão de tempo
Em Sydney, na 42ª Conferência Monetária Internacional, Dornbusch disse que um colapso financeiro no Brasil é questão de tempo.
No encontro, os 160 delegados de 20 países, a maioria presidentes de bancos centrais e de grandes instituições de investimentos, advertiram que a América Latina e o Leste Europeu ainda precisam consolidar suas reformas para disputar o capital externo em boas condições.
Ex-conselheiro do governo dos EUA, Dornbusch sugeriu que os investimentos externos deverão deixar esses países de risco "antes que algo aconteça".
Dornbusch disse que as altas taxas de juros do Brasil, aliadas à sobrevalorização do real, impedem o crescimento e obrigam o país a restringir importações para conter o déficit na balança comercial. "Ninguém está dando a devida atenção à política cambial."

* com agências internacionais

LEIA MAIS sobre a queda do dólar à página 2-8

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