São Paulo, terça-feira, 4 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Filha de Belmonte guarda trabalhos do pai

ROSANA SPINELLI
DA FOLHA NORDESTE

Ausente da história oficial contada sobre seu pai, a filha única de Benedito Bastos Barreto, o Belmonte (1896-1947), vive em Guariba (340 km a noroeste de São Paulo) há 35 anos.
O paradeiro de Laís Barreto Sadalla, 67, era desconhecido mesmo pelos historiadores que se dedicam a estudar a vida do caricaturista e ilustrador que ficou famoso entre as décadas de 20 e 40.
Laís concedeu anteontem à Folha a primeira entrevista sobre o pai em seus 67 anos. Viúva, com seis filhos e sete netos, ela acompanha de longe as comemorações do centenário de Belmonte.
Na casa onde vive com sua única filha solteira, Laís Sadalla, 33, ela exibe a certidão de óbito de Belmonte. As causas da morte, de acordo com a certidão, foram desnutrição, infecção gripal e caquexia (desnutrição profunda).
Isolamento
Segundo Laís, Belmonte era um homem quieto, que gostava de trabalhar sozinho em seu escritório. "Preferia desenhar à noite, porque tem menos barulho", disse.
Na opinião de sua filha, a inspiração de Belmonte vinha unicamente dos livros. "Ele não gostava de cinema e de teatro e raramente saía de casa", afirmou.
Segundo sua filha, apesar do trabalho bem-humorado, Belmonte tinha uma aparência um pouco triste e levava uma vida "simples, sem nenhum luxo".
Visitas e lembranças Entre as pessoas que costumavam frequentar a sua casa, na rua Atibaia, em São Paulo, o visitante mais ilustre na memória de Laís é Monteiro Lobato.
"Ele sempre ia lá em casa acompanhar as ilustrações que encomendava para o meu pai. Monteiro Lobato era muito legal", disse. Belmonte fez as primeiras ilustrações para os personagens de "O Sítio do Picapau Amarelo".
Laís guarda em um baú trancado à chave um pequeno acervo da obra e da vida de seu pai.
Além de cerca de 200 exemplares da antiga biblioteca de Belmonte, esconde dos netos fotografias, alguns documentos, um livro ilustrado por ele e um álbum de caricaturas. "Nesse álbum, meu pai colocou as suas caricaturas preferidas", afirmou.

Texto Anterior: Brasileira concorre a prêmio da Unesco
Próximo Texto: Jornais mostram sua evolução gráfica
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.