São Paulo, terça-feira, 4 de junho de 1996 |
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"Dia de Cão" ensina a ver policial do presente
INÁCIO ARAUJO
Hoje, essa mesma franqueza é retomada pelo filme policial, em particular esses que se filiam ao "tarantinismo". Mas, entre Lumet e Quentin Tarantino e seguidores, há um abismo. A franqueza do policial contemporâneo está vinculada ao cinismo, a um olhar descrente para as coisas. Não que os filmes sejam inconsequentes (a priori, pelo menos), o mundo é que se tornou objeto de um desencanto tão cavalar que um assassinato tem o mesmo alcance de um piquenique. Não há lugar para conflito, só para a sobrevivência. Em Sidney Lumet, ao contrário, a dimensão moral se impõe. Cada gesto, cada diálogo expressa um conflito. Do lado dos assaltantes, tanto quanto dos policiais que fazem o cerco ao banco, a sobrevivência é quase secundária. Os personagens lutam para impor uma visão das coisas, e nesse pêndulo que nos remete ora à ordem instituída, ora a seus infratores, cria-se o quadro de uma sociedade de posições cambiantes, dinâmica, dilacerada. Ainda é cedo para saber o que diz, com segurança, o que significa o novo policial. Para começar, existe um jogo interno da arte, que consiste em romper com umas tantas convenções, de tempos em tempos. Mas sua simples existência esclarece um pouco sobre o que se passava nos EUA há não tanto tempo assim. (IA) Texto Anterior: Palmeiras 96! Tô com overdose de Verdão! Próximo Texto: Orson supera tradição Índice |
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