São Paulo, quinta-feira, 6 de junho de 1996
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Brown vai a Paris e a teenbolada é campeã

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, uma partida entre Grêmio e Palmeiras tornou-se uma espécie de Ginger e Fred do futebol brasileiro: ou seja, um clássico dos anos 90, nesse tipo de sapateado que é também o fut.
Veja bem, baby, que amanhã, no estádio Olímpico da agradável Porto Alegre, que me tratou tão bem, estarão os dois times brasileiros mais consistentes das últimas temporadas.
É impressionante a regularidade dos bons resultados nos dois lados. Embora pertençam a escolas diferentes na formatação de jogo, amanhã teremos um desses raros encontros em que os dois times entram em campo sabendo direitinho o que pretendem fazer em cima da relva verde.
São duas escolas modernas de futebol, onde a esquematização tática, o módulo de jogo, parecem ser aqueles fios invisíveis que dão a arte de movimento às marionetes: cada movimento de um membro está vinculado ao dos outros, o resultado é uma dinâmica de preenchimentos de vazio, de conquistas de espaços, de ocupação de terrenos capaz de dar inveja ao mais organizado dos movimentos dos Sem Terra.
O movimento do Grêmio lembra mais uma catapulta: ele se encolhe, junta-se todo para concentrar mais forças e, quando faz seu disparo, armazenou força suficiente para sobrevoar a linha inimiga.
(Sua vanguarda é articulada pelo "braveheart" Paulo Nunes e seus sete fôlegos; sua artilharia é comandada pelo papo cabeça do Jardel, o homem que dispensou os pés para jogar futebol e que transformou a expressão "go ahead", vá em frente, em "gol à head". Não me lembro quem sugeriu, peço desculpas, o Jardel, que teria 22 anos, na teenbolada do velho Lobo do fut Zagallo. Olhaí, mais uma opção quicando...).
Já o Palmeiras é uma metamorfose constante entre o polvo e a pólvora: tentáculos-dedos com a mão no gatilho, esparramados por todo o mar verde do gramado, prestes a disparar com a velocidade de um Jesse James de seriado.
Se a perfilação gremista em campo lembra mais a disciplina guerrilheira de uma força de infantaria, a tática palmeirense é a da guerra de guerrilha, de atacar por todos os lados ao mesmo tempo.
Quando um time está fogo de ladeira acima, o elenco se nivela por cima. Rivaldo, Muller e Djalminha estão aí a puxar, como madrinhas, o bom futebol apresentando pelo lateral esquerdo Júnior, ou pelo zagueiro-artilheiro Cléber.
Enfim, as camisas verdes levam uma vantagem amanhã, porque venceram o primeiro jogo por 3 a 1, e o time está tinindo, tinindo trincando, com o sebo nas canelas, como se dizia antigamente.
Mas os camisas azuis, no palco das tradições gaúchas, com o ventos dos pampas e o calor da ventas crescendo na disputa, oferecerá resistência histórica, ali, o país de combatentes.
O espírito de luta garibaldino, que une o Sul do país à Itália do Palmeiras e da Parmalat, estará flamejando amanhã de novo, para desgraça e glória dessa nossa vida.
*
Só porque o Carlinhos Brown foi lançar o seu disco em Paris, a teenbolada brasileira trouxe mais um título da França.

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