São Paulo, quinta-feira, 6 de junho de 1996
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"Fulanização"

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O ministro da Fazenda, Pedro Malan, adora o neologismo "fulanização". Irrita-se, com muita razão, sempre que a discussão de algum tema envereda pela pessoa física dos interlocutores, em vez de se deter nos argumentos deles.
Espero que o ministro tenha ficado igualmente irritado com a "fulanização" do novo escândalo causado pelo economista Rudiger Dornbusch.
Rapidinho, rapidinho, o pessoal deixou de lado o que disse Dornbusch sobre o Brasil para concentrar-se em quem é Dornbusch. Em vez de se discutir se o câmbio está ou não abusivamente supervalorizado (que está supervalorizado, ninguém nega), passou-se a discutir se Rudi é mais ou menos digno de ganhar um prêmio Nobel de Economia do que fulano ou beltrano.
Houve até tintas xenófobas na polêmica, como se o fato de Dornbusch ser alemão radicado nos EUA o impedisse de falar sobre o Brasil. É ridículo.
No que toca ao fundo da questão, é até discutível que Dornbusch tenha de fato dito que o real está sobrevalorizado em 40%, como passou a ser a versão universalmente aceita.
Reproduzo, a propósito, o texto do jornal "The International Herald Tribune" a respeito da conferência de Dornbusch a portas fechadas em Sidney (Austrália):
"Ele também disse que sentia que não estava sendo dada atenção suficiente para as políticas cambiais, mas não fez referência específica a níveis de taxas de juros ou moedas em particular".
À parte os hoje famosos 40%, Rudi disse o que incontáveis economistas dizem, inclusive no próprio governo: a âncora cambial (traduzida por sobrevalorização do real) é insustentável a médio prazo e tem que ser trocada pela chamada âncora fiscal, ou seja, pelo equilíbrio tão estrutural quanto possível das contas públicas.
Pena que Dornbusch tenha dito tais coisas em inglês e que a direita, agora, assuma o papel de guardiã da soberania nacional.

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