São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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Analfabetismo é maior entre os negros

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

O analfabetismo é 2,5 vezes maior entre negros do que entre brancos no Rio de Janeiro. No acesso ao ensino superior, a desigualdade é ainda pior: 12% dos brancos concluíram o 3º grau, contra só 2,5% dos negros.
Os dados, da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, se referem ao Censo de 1991. É a primeira vez que estatísticas oficiais medem, de modo cruzado, o grau das desigualdades sociais e raciais no Brasil.
"Os dados podem ser extrapolados. O Rio tem tradição de vida urbana, essa situação deve ser ainda pior em outras áreas", diz o professor de geografia humana da USP Milton Santos. Ele é um dos raros docentes negros que chegaram ao grau de professor titular.
O censo revela que a discrepância racial diminui, mas lentamente. O analfabetismo é muito maior entre os negros com 80 anos ou mais (66%) do que entre os que tem de 15 a 19 anos (9%).
Entretanto, mesmo para os adolescentes há uma diferença brutal entre a alfabetização de negros e de brancos. A taxa de analfabetismo entre os jovens brancos é um terço da dos negros: 3%.
Para Santos, as raízes dessa desigualdade são históricas e estruturais. "Os progressos obtidos estão longe de permitir uma equalização. Os números são eloquentes e exigem ações excepcionais para essa camada da população".
O professor da USP defende as chamadas ações afirmativas. Nos EUA, por exemplo, foram estabelecidas cotas raciais no mercado de trabalho e em vagas nos cursos universitários.
No Rio, a desigualdade racial vai além da alfabetização: ela se estende por toda a vida escolar.
A maioria absoluta (59%) da população negra com mais de 10 anos só tem o que o IBGE chama de nível elementar de escolaridade -até a 4ª série do 1º grau. Entre os brancos, essa taxa é de 39%.
No 2º grau, a relação se inverte: 26% dos brancos concluíram o curso, contra só 15% dos negros.
No 3º grau e na pós-graduação, a discrepância chega ao seu extremo: 12% e 0,7% para os brancos, respectivamente, e 2,5% e 0,1% para os negros.
"A maior incapacidade de acesso a um nível de conhecimento mais elevado é muito grave no mundo atual", analisa o geógrafo.
A menor taxa de analfabetismo da população fluminense é a dos descendentes de orientais: 6%.
Poucos em termos absolutos (14.172), eles têm também o melhor desempenho escolar: 19% concluíram o curso superior.

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