São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
Próximo Texto | Índice

Clínica tenta impedir exame de corpo

CLÁUDIA MATTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A clínica Santa Genoveva, em Santa Teresa (zona sul do Rio), recusou-se a entregar os corpos de três outros pacientes que morreram ontem.
Um rabecão do Corpo de Bombeiros chegou a entrar na clínica, de manhã, para levar os corpos para o IML, mas saiu de lá vazio, diante da recusa.
Por determinação da delegada da 7ª DP (Santa Teresa), Sônia Bello, os corpos de todos os mortos da Santa Genoveva têm de ser encaminhados ao IML (Instituto Médico Legal), para que seja determinada, na necropsia, a causa da morte.
Às 18h de ontem, Sônia foi à clínica levando uma ordem judicial para poder retirar os corpos de Severino Clemente Vasconcelos, 66, Analieta Bispo de Santana, 66, e Alaíde da Costa Mello, 65, da clínica. Às 18h30, os corpos foram liberados.
Para a delegada, a atitude dos donos da clínica é um indício de que eles estão tentando esconder a causa da morte dos pacientes. Com a morte desses outros três pacientes, a Santa Genoveva já soma 93 mortes desde o início de abril.
"Eles disseram que os três tinham morrido de morte natural. Mas, para mim, todas as mortes ocorridas na clínica estão sob suspeita. Eles estão com medo de que o IML possa descobrir o que está matando os pacientes", disse.
Antes de obter a ordem judicial, Sônia tentou negociar a liberação dos corpos com Eduardo Espínola, sócio da clínica junto com Mansur José Mansur, mas ele não concordou com a remoção.
"Ele disse que os corpos não tinham que passar pelo IML porque as mortes tinham ocorrido por causas naturais", disse.
Diarréia
Segundo parentes dos mortos, Vasconcelos tinha câncer na próstata. Já Analieta e Alaíde tinham sofrido derrame cerebral.
Carlos Carpinteira, médico da clínica, teria escrito no atestado de óbito que Alaíde e Analieta teriam morrido de sequelas do derrame e que Vasconcelos teria sofrido um acidente cardiovascular.
No entanto, amigos de Alaíde, cujo único parente, um filho, está desaparecido, foram até a delegacia e afirmaram que ela estava com diarréia, sintoma apresentado pelos pacientes contaminados pela bactéria shigella.
"Ela estava com diarréia havia 15 dias e foi definhando por causa disso", disse Maria Cristina Moraes, amiga de Alaíde.
Almiro Evangelista de Santana, 66, viúvo de Analieta, disse que foi avisado pela clínica de que o corpo de sua mulher estaria no IML. Quando chegou lá, descobriu que o corpo ainda estava na clínica.
"Depois, na Santa Genoveva, disseram que só liberariam o corpo da Analieta se fosse para seguir para o cemitério. Se fosse para ir para o IML, eles não liberariam. Não concordamos."
Colaborou Cristina Rigitano, free-lance para a Folha.

Próximo Texto: Interno que morreu solicitava médicos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.