São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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Classe média deixa de pagar em dia

FÁTIMA FERNANDES
MÁRCIA DE CHIARA

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisa realizada em nove setores mostra que os atrasos nos pagamentos estão acima da média histórica

A afirmação de anteontem do presidente Fernando Henrique Cardoso, de que "calote quem dá é rico", não é corroborada por entidades que medem o nível de inadimplência da classe média.
Levantamento feito pela Folha junto a nove setores mostra que os atrasos nos pagamentos estão muito acima da média histórica.
O nível só está abaixo do recorde registrado no ano passado porque muitos credores preferiram renegociar as dívidas, esticando o prazo de pagamento.
É o que se pode concluir após ouvir representantes de financeiras, escolas, locadores de imóveis, planos de saúde, supermercados e empresas de cartão de crédito.
O caso das escolas é ilustrativo do quadro geral. Uma quinta parte do dinheiro que elas têm a receber dos pais está atrasada em mais de um mês, segundo a Associação Paulista dos Estabelecimentos Particulares de Ensino, que reúne cem escolas no Estado.
Antes do Real, esse percentual não passava de 6%, considerada a média histórica. A alta é de 233%.
O atraso no pagamento dos aluguéis (acima de 60 dias) também aumentou. Nesse setor, a inadimplência bateu em 8%. Tradicionalmente, era da ordem 2% a 3%, segundo a Hubert Imóveis e Administração, que tem 1.500 imóveis comerciais e residenciais locados na cidade de São Paulo.
Nos planos de saúde, o número de clientes inadimplentes é recorde: dobrou de 15% para 30% em três meses, segundo a Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo).
Para trocar de carro
Quem financia o crediário de eletroeletrônicos, vestuário e material de construção registra hoje alta de até 162% no atraso (acima de 30 dias) no pagamento dos carnês.
O Banco Panamericano, por exemplo, diz que a inadimplência de 4,2% no setor eletroeletrônico e de 3,78% no de material de construção é preocupante. A média histórica não passava de 1,7%.
A Credial, especializada no financiamento de artigos do vestuário, diz que a dívida dos clientes soma US$ 26,5 milhões (35% sobre o total a receber). Há um ano, o calote era de US$ 18 milhões.
A dívida acumulada dos consumidores e das empresas nos últimos seis meses junto às financeiras das montadoras de veículos já chega a US$ 135 milhões, segundo a Associação Nacional das Entidades de Serviços Financeiros e de Consórcios da Indústria Automobilística.
As administradoras de cartões de crédito registram hoje inadimplência de 2% no pagamento das faturas em atraso superior a 60 dias. A média história é de 1%. O pico, no entanto, foi alcançado em agosto de 1995, quando bateu em 5,5%, diz a Abecs, que reúne as administradoras de cartões.
Nos supermercados, os cheques sem fundos já representam 4% do valor dos cheques recebidos. Há um ano, esse número girava em torno de 1,5%.

LEIA MAIS sobre inadimplência na pág. 2-7

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