São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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Paixão corintiana supera qualquer Parmalat

VICENTE MATHEUS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Eu não vou assistir hoje ao jogo do Palmeiras contra o Grêmio pela Copa do Brasil.
É chato ficar vendo jogo dos outros pela televisão quando o Corinthians está eliminado.
Dizem que o Palmeiras está ganhando tudo, pode ganhar hoje de novo, mas se o Corinthians está fora perde a graça. Então, não vou ver o jogo.
Apesar de estar afastado, não acompanhando tanto o futebol, sofro, como todo corintiano, com os maus resultados do meu time.
É uma pena que o Corinthians tenha disputado três campeonatos e perdido os três. O palmeirense está fazendo piadas e brincadeiras sobre a gente porque a fase do time deles agora é melhor.
Não ligo para as piadinhas porque o Corinthians é grande demais, já ganhamos muito do Palmeiras, mas fico aborrecido com as derrotas. O corintiano tem dormido com a cabeça quente, as coisas não podem ficar assim.
A atual diretoria não teve força para levar o time a pelo menos um título.
O presidente tem que ter pulso forte, como eu sempre mostrei que tinha.
Comigo ninguém brincava. Jogador de futebol é pago para jogar bola. Pronto.
Hoje ele comanda tudo, exige tudo, manda no técnico, manda no presidente, ganha salários fora da realidade.
Não pode ser assim. Sei que muitos me chamam de ditador, a própria imprensa dizia que eu era autoritário, mas sempre dei tudo de mim ao Corinthians.
Deixei até a minha empresa várias vezes de lado para cuidar do clube.
A torcida concorda comigo. A Marlene, minha patroa, também fica chateada com a situação. Outro dia mesmo a gente estava conversando, e ela disse que eu sou o presidente eterno do Corinthians. É verdade, porque a torcida me trata assim.
Fui a um restaurante não faz muito tempo, e um torcedor se aproximou e pediu para eu voltar. "Seu Matheus, o Corinthians precisa do senhor."
Pedidos assim acontecem frequentemente, mas agora eu estou afastado e, para voltar, precisaria saber como é que está a situação financeira do clube.
Li nos jornais que o prejuízo é de milhões de dólares, os times têm perdido muito dinheiro com o futebol.
Depois de tantos anos dedicados ao clube, é doído ver o Corinthians atravessando uma fase assim, não estando em nenhuma final.
Até agora, quem pagou o pato foi o Eduardo, um bom rapaz, demitido do cargo de treinador.
Mudar só o técnico não adianta. O Corinthians tem que mudar muita coisa, ser administrado por quem ama, conhece, frequenta o clube.
Muita gente usa o Corinthians para interesses próprios, para autopromoção. Eu e a Marlene sempre demos tudo o que podíamos ao Corinthians, nunca o usamos em proveito próprio.
Ficam falando que o clube precisa de uma Parmalat, mas uma Parmalat não se encaixaria no Corinthians.
O que o time precisa é de gente que trabalhe por ele por amor e com seriedade porque a paixão corintiana pode superar qualquer Parmalat.

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