São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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Widerberg volta em 'Todas as Coisas'

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Bo Widerberg, 66, vivia reclamando que o cinema sueco não ia para a frente por culpa de Ingmar Bergman, que teria monopolizado todas as atenções internacionais.
Bergman parou de filmar em 1986, ano em que apresentou um delicioso documentário sobre as suas filmagens de "Fanny e Alexander". Widerberg também, no mesmo ano. Infelizmente, Bergman não voltou atrás. Widerberg, sim, com este "Todas as Coisas São Belas".
Widerberg é marco na remota lembrança dos cinéfilos por "Elvira Madigan", um delicado filme sobre um amor impossível, consagrado em 1967 e embalado ao som envolvente do "Concerto nº 21 para Piano", de Mozart.
Na bucólica tragédia dos anos 60, o diretor sueco usava a sua então pequena filha Nina na ligação amorosa entre o casal apaixonado. Na sua volta ao cinema Widerberg apela agora para o seu filho mais novo, Johan, no papel de um adolescente de 15 anos seduzido por uma fogosa professora de 22 (Marika Lagercrantz). O tema é manjado demais no cinema escandinavo mas a culpa não é de Bergman.
Widerberg devia ter concentrado a carga da sua ira nos anos 60 não contra Bergman e sim contra a então nascente indústria pornográfica no seu país, mais popular que o seu rival e mais responsável do que Bergman pelos estigmas que marcaram o cinema sueco.
Com Bergman fora do páreo, com nove indicações aos Oscars desde o seu clássico "Morangos Silvestres", de 1959, o retorno do rancoroso Widerberg está mais para a mão de um pornógrafo do que um mestre injustiçado.
E de mão bem pesada para tocar um manjado tema de sedução e erotismo.
O filme é curioso mas não chega a configurar um estilo. A ação vai logo às vias de fato e torna-se explícita às vistas de um marido traído e indiferente.
A impressão que dá é que Widerberg estudou toda a psicologia de culpa dos personagens de Bergman para nunca cair na tentação de aproximar-se deles. Mas sem complexos de culpa, como pode um pecado resistir à sua própria tentação? Com frieza e a orgástica mecânica dos pornôs.
A sedução maior da volta de Widerberg ao cinema deve ser creditada ao seu produtor dinamarquês Per Holst, Palma de Ouro em Cannes e Oscar de melhor filme estrangeiro em 1988 com "Pelle, o Conquistador", de Bille August.
A fama de perseverante e caprichoso de Per Holst pode ser de novo conferida em "Todas as Coisas são Belas" nos requintes da produção em adaptar o melhor possível da sua ação nos anos 40, quando a Segunda Guerra Mundial é apenas uma referência distante na narrativa.
Foi o grande prestígio de Holst em Hollywood que conduziu a sua nova produção à lista finalista de melhores filmes estrangeiros do ano. É o que mais se comentava durante o último festival de Berlim, em fevereiro, onde o filme foi contemplado com o prêmio especial do júri.

Filme: Todas as Coisas São Belas
Produção: Dinamarca, 1995
Direção: Bo Widerberg
Com: Johan Widerberg, Marika Lagercrantz
Onde: Cinearte

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