São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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Sexo oral pode transmitir vírus da Aids

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O sexo oral deve ser colocado na lista de fatores de risco da Aids, dizem cientistas americanos que demonstraram a possibilidade de infecção com o vírus causador da doença em macacos.
"Com base em relatos de casos com seres humanos e no nosso estudo, o intercurso oral receptivo não-protegido deve ser colocado na lista de comportamentos que colocam as pessoas em risco de infecção pelo HIV-1", diz a médica e pesquisadora Ruth Ruprecht, chefe do Laboratório de Patogênese Viral do Instituto do Câncer Dana-Farber, de Boston (EUA).
O risco viria de sêmen contaminado na boca, não de saliva, ela e seus colegas deixam claro. "Compartilhar talheres, escovas de dente ou beijar não foram associados com a transmissão do HIV-1", diz.
O HIV-1 (vírus da imunodeficiência humana) é o principal vírus causador da Aids em seres humanos. A pesquisa foi feita com um "primo" próximo, o SIV (Vírus da Imunodeficiência Símia), que causa Aids em algumas espécies de macacos.
HIV e SIV têm em comum uma estrutura genética semelhante, além de serem transmitidos pelas mesmas maneiras e atacarem o mesmo tipo de células de defesa do organismo.
A principal forma de transmissão desses vírus é pelo sangue e, em segundo lugar, pelo sêmen.
Isso pode acontecer pela transfusão de sangue contaminado, que coloca uma grande quantidade de vírus no indivíduo receptor, pela troca de seringas usadas para injeção de drogas e também pelo sexo anal sem camisinha, que provoca feridas na mucosa do reto.
Os médicos dizem que existe também um risco potencial de transmissão caso a mucosa da boca também esteja com ferimentos, já que haveria então contato eventual do vírus com o sangue.
A pesquisa de Ruprecht, porém, foi feita em animais -macacos resos- sem lesões na boca ou no reto e foi "não-traumática": o vírus SIV foi simplesmente colocado, sem que algum ferimento tivesse sido produzido.
A grande surpresa foi ver que, após essa simples "exposição", o vírus passou pela mucosa da boca com mais facilidade do que por aquela do reto.
"Nós ficamos surpresos ao constatar que a dose mínima de vírus necessária para obter uma infecção mucosal não-traumática depois da exposição oral foi na verdade 6.000 vezes menor do que a necessária para a infecção retal."
Os pesquisadores relataram a descoberta em artigo publicado na edição de hoje da revista científica americana "Science".
Em compensação, a infecção diretamente pelo sangue foi muito mais fácil do que pela via oral, exigindo 830 vezes menos vírus.
Os cientistas também repararam que a menor ou maior presença de suco gástrico -que poderia aniquilar os vírus no estômago- não fez diferença: os macacos se infectaram do mesmo jeito.

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