São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996 |
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Infecção pela boca é rara, dizem médicos brasileiros
RICARDO BONALUME NETO
"O que os americanos falam é correto. Infecção por via oral é possível, mas rara. Lembro de dois casos apresentados em congressos, de um diabético impotente que fazia sexo oral e de duas lésbicas, uma das quais tinha se contaminado com uso de droga", diz David S. Lewy, coordenador do grupo de Aids da Universidade Federal de São Paulo. Para ele, é preciso que se alerte sobre os riscos do sexo oral, "mas não com uma ênfase tão grande". Vicente Amato Neto, chefe do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), acha que a descoberta mostra que as pessoas precisam ter ainda mais cautela. "Até agora, temos entendido que, para a penetração do vírus, é preciso lesão em mucosa", diz Amato. "Não é raro as pessoas perguntarem sobre o risco do sexo oral. O bom senso diz que, pela impossibilidade de saber se há lesão, é preciso ter cuidado", diz Amato. O grau de risco varia também de acordo com o tipo de relação sexual. "Nós sabemos que o risco pelo sexo anal é seis vezes maior que pelo vaginal", declara Amato. Estudos anteriores feitos por outros cientistas mostraram que foram necessários de cem a mil vezes mais vírus SIV (de macacos) para cruzar a mucosa retal intacta e causar infecção do que aquela obtida com a inoculação direta no sangue, e de 5.000 a 10.000 vezes no caso da via vaginal. David Uip, infectologista do Instituto do Coração e do Hospital das Clínicas da FMUSP, também acha que a transmissão por sexo oral é possível, "mas não a colocaria como sendo de alto risco". Ele lembra que, no dia-a-dia do hospital, tem encontrado casos de transmissão do homem para a mulher, pelo sexo vaginal, em aproximadamente 45% dos casais. "É preciso cuidado para transferir dados obtidos com animais de laboratório para a prática humana", diz ele, que acha que o trabalho dos pesquisadores americanos precisa ser aprofundado. Aids em jovens Pacientes infectados com o vírus HIV, causador da Aids, têm maior probabilidade de viver mais se a infecção ocorreu quando eles eram jovens, afirma estudo publicado hoje na revista "The Lancet". O estudo, realizado por uma equipe do Centro Imperial de Pesquisas de Câncer (Reino Unido), acompanhou 1.216 hemofílicos que haviam sido infectados por meio de transfusão sanguínea. Após cinco anos, 98% dos infectados quando tinham até 15 anos continuavam vivos, contra 94% dos que haviam contraído o HIV entre 15 e 34 anos. A porcentagem dos que permaneciam vivos caiu para 86% quando a contaminação se deu entre 35 e 55 anos. Depois de cinco anos, apenas 46% dos contaminados em idades superiores a essa viviam. (RBN) Texto Anterior: França faz megacampanha na TV Próximo Texto: Netanyahu diz que não quer minar paz na região Índice |
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