São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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Entre o público e o privado

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Ana Lúcia e Paulo Henrique levam uma vida confortável. Casados, quatro filhas, moram numa bela casa, em São Conrado, no Rio. Para os finais de semana, dispõem de outra propriedade, num condomínio em Angra dos Reis.
Ana e Paulo não têm apenas sobrenomes. É como se, enganchadas aos nomes de família, exibissem razões sociais. São, a um só tempo, pessoas físicas e jurídicas.
Ela, Ana Lúcia Magalhães "Nacional" Pinto, é acionista do famoso banco micado. Ele, Paulo Henrique "Presidência da República" Cardoso, é filho de Fernando Henrique "Proer" Cardoso.
A UTI monetária que socorreu o banco de Ana Lúcia abriu uma fenda na imagem do governo do pai de Paulo Henrique. A restauração do estrago depende, em boa medida, de uma queda na qualidade de vida das netas de Fernando Henrique.
Até aqui, sob queixas do presidente, o Proer é visto como espécie de erupção de um Brasil que se imaginava extirpado. Um país em que o lucro é sempre privado e o prejuízo invariavelmente público.
Tem-se agora a oportunidade de demonstrar que o Proer, como diz o governo, pertence a um outro Brasil. Um país recém-nascido, que trata fraude bancária como crime.
Relatório produzido pelo Banco Central ratifica algo que já é de domínio público: nos últimos dez anos, o Banco Nacional sobreviveu graças a fraudes patrocinadas por sua diretoria e seus controladores.
Deram-se passos importantes. O controle do Nacional mudou de mãos e os bens da família Magalhães Pinto, Ana Lúcia incluída, encontram-se indisponíveis. Mas não é o bastante. Para cobrir parte dos prejuízos do Tesouro é preciso expropriar bens.
Há processos em curso, no âmbito do Ministério Público. Espera-se que cheguem a algum lugar. De preferência ao Brasil novo e sério de que se falava dois parágrafos acima.

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