São Paulo, sábado, 8 de junho de 1996
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São Paulo sofre processo de "guetização"

GILBERTO DIMENSTEIN
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

A cidade de São Paulo vive um rápido processo de "guetização" -o termo significa que, com a propagação da pobreza, os habitantes de maior poder aquisitivo buscam isolamento nas cidades.
A definição foi exposta ontem em documento da Unesco, entidade da ONU de cultura e educação, em debate da Habitat 2 sobre cidades e cidadania. A mediadora foi a primeira-dama Ruth Cardoso.
A "guetização" é o reflexo da paisagem urbana da desigualdade social, produzindo massas de excluídos dos melhores espaços urbanos. Segundo o documento, ocorre a partir da "não-integração cultural".
Os guetos, de acordo com o texto, são exemplo da "fragmentação social"; os mais ricos passam a criar novas fronteiras na cidade, garantidas por força policial privada -exemplos são os condomínios fechados como Aldeia da Serra ou Alphaville.
O documento mostra uma crítica constante na Habitat 2 à imagem de São Paulo: na maioria deles, a cidade foi apresentada como referência sobre como um grande centro urbano não deveria ser.
No texto oficial da Habitat 2, São Paulo é apresentada como moldada, em parte, pelos focos de violência, que, segundo Wally N'Dow, são uma espécie de "guerra civil em câmera lenta".
Mesma análise foi feita, em documento divulgado ontem, pela Organização Mundial da Saúde, ao analisar a violência.
Sobre a questão da escassez das águas, São Paulo entra na lista das cidades gigantes que, em breve, correm o risco de escassez.
O Rio de Janeiro também aparece como destaque negativo, mas, por não ter a mesma importância internacional de São Paulo, tem menos destaque.
Quando se fala em violência, o Rio é apresentado como exemplo negativo de desordem e ameaça.
Os debates sobre soluções urbanas exibem sobre o Brasil uma visão dos extremos -de São Paulo como exemplo de colapso urbano e de Curitiba como referência de sucesso administrativo.
Raros são os documentos sobre alternativas às cidades que não citem Curitiba como uma experiência importante para nações pobres e desenvolvidas.

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