São Paulo, sábado, 8 de junho de 1996
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Galvão diz que conjunto quer se reunir

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Há 28 anos, formou-se a confraria Novos Baianos, inicialmente com Galvão, Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Baby Consuelo. Há 16 anos, com a saída de vários integrantes, o grupo encerrou atividades. Há 13, Galvão, letrista e diretor artístico da banda, escreve as memórias daquele período.
A editora 34 vai publicar a história. "Anos 70 - Novos e Baianos" sai em setembro.
Como aconteceu com vários dos Baianos, Galvão seguiu carreira errática no pós-debunde. Foi secretário de cultura em Juazeiro, plantou melão, virou paisagista.
Pretende voltar agora com seu grupo Galvão e os Outros Baianos e com o livro, que mistura memória pessoal à história da MPB -e do Brasil- nos anos em que os Novos Baianos existiram.
Ele diz que o livro não segue a estrutura delirante dos textos que escrevia para os encartes dos Novos Baianos. "Tem uma roupa poética, mas ao mesmo tempo é bem mais linear", afirma.
"Procuro seguir uma ordem cronológica. Começo falando da pensão de dona Maritó, onde conheci Moraes. Aí falo do Esquadrão da Morte, de João Gilberto, da nossa 'comunidade naturalista'", diz.
Histórias
Formados em 68, os Novos Baianos estrearam em disco em 70, com "É Ferro na Boneca!", tipicamente tropicalista.
Dessa época data o episódio com o grupo paramilitar Esquadrão da Morte. "Havia uma campanha em Salvador para expulsar os cabeludos. Prenderam a gente e rasparam os cabelos. O de Baby não cortaram. Puseram ela para dormir com as prostitutas."
Depois, juntaram-se ao conjunto A Cor do Som (Pepeu Gomes era um dos integrantes), num sítio comunitário em que lançaram as bases da família hippie brasileira.
O segundo disco, "Acabou Chorare" (72), fixou o estilo NB: samba para um público jovem, hippie e roqueiro.
Dessa época datam o encontro com João Gilberto, então fã do grupo, e a criação de canções antológicas como "Preta Pretinha", "Mistério do Planeta", "A Menina Dança" e "Brasil Pandeiro" (do cancioneiro de Assis Valente).
Depois de "Novos Baianos F.C." (73) e "Novos Baianos" (74), Moraes deixou o grupo.
Seguiram-se ainda quatro discos: "Vamos pro Mundo" (74), "Caia na Estrada e Perigas Ver" (76), "Praga de Baiano" (77) e "Farol da Barra" (78). Foi quando Baby, Pepeu e Paulinho partiram para carreiras solo.
"No final, ficou impraticável, as carreiras individuais eram mais estimuladas pelas gravadoras. Os interesses conflitavam", diz ele.
Polêmica e importância
Galvão nega qualquer potencial polêmico em seu livro. "Não falo mal de ninguém. Falo muito de droga, pode ser que alguém não goste. Mas não procurei escrever nada que possa doer em alguém."
Para Galvão, na originalidade mora a importância dos Novos Baianos. "Acho que há duas coisas muito originais na MPB: Novos Baianos e Mamonas Assassinas. Tudo no Brasil tem um dedo da coisa que vem lá de fora. Os Novos Baianos não tinham, não pareciam com nada", diz.
Ele explica a comparação: "Falo no sentido de que não parece com nada. Não gosto da música, mas eram bem originais."
Não só por isso. "Nosso trabalho não tinha queixa, essa coisa da MPB de protesto burro. Fixamos a guitarra, que era maldita. E havia o resgate dos velhos nomes."
Volta
Há pouco tempo, o grupo, sem Galvão, reuniu-se num show de Moraes. Pipocaram notícias de retorno.
"Nos últimos dois anos, teve tudo para acontecer, esteve quase certo, nos reunimos para fazer músicas novas", conta.
O empecilho, além dos projetos individuais, foi, segundo Galvão, a falta de respeito das gravadoras. "Uma queria que convidássemos para o disco músicos de axé", diz.
Mesmo com projeto de um CD solo, Galvão não rejeita a possibilidade da volta. "Uma hora creio que vai acontecer. Todas as pessoas no mundo que fizeram coisas juntas voltaram a fazer. Sei que nós faríamos uma coisa boa."
A harmonia do grupo ajuda a explicar, para ele, o porquê das carreiras solo inconstantes dos ex-membros. "Justamente porque juntos formamos uma coisa muito forte, não sei se sozinhos, seria possível repetir isso".
A qualidade do grupo não significou popularidade. Apesar de certa revalorização nos últimos anos, de toda a discografia, apenas "Acabou Chorare" (Som Livre) e uma coletânea da Continental estão disponíveis em CD. De resto, os donos da MPB nos 70 continuam semi-esquecidos.

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