São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Favela é um exemplo de excelência

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A favela do Jardim Monte Azul tem marcenaria, padaria, oficina de papel reciclado, ambulatório médico e um teatro com 150 lugares -tudo tocado pelos próprios moradores.
Encravada na zona sul, a região mais violenta da cidade de São Paulo, a favela conseguiu a proeza de não desvalorizar os imóveis ao seu redor.
Uma casa no Jardim Monte Azul costuma valer 30% a mais do que outra a três quilômetros adiante. Não há mágica.
A favela é uma das mais seguras da cidade, segundo a polícia, porque ali funciona há 17 anos uma ONG modelo: a Associação Comunitária Monte Azul.
A associação dá creche e centros da juventude para 400 crianças e adolescentes de 1 mês a 18 anos. São sete creches, todas com 20 crianças no máximo.
Não é só pelo trabalho social que a entidade é considerada exemplar. "A administração da Monte Azul é excelente", diz Luiz Carlos Merege, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo que dá consultoria à ONG.
Excelente, aí, significa fazer relatórios mensais de prestação de contas, balanço anual, trabalhar com metas e ter equipe de captação de recursos -como se fosse uma multinacional.
A sofisticação máxima está em curso. Está sendo criado um conselho de administração e todos os setores da ONG debatem suas metas para estabelecer um plano estratégico.
"ONG que não se profissionalizar não sobrevive", diz Judas Tadeu de Souza, 34, coordenador social da Monte Azul. "Um dos segredos é explicar tintim por tintim para onde foi o dinheiro doado."
Na Monte Azul isso é fácil. Uma folha dupla quadriculada informa que no mês de fevereiro a ONG fechou no positivo. Recebeu R$ 93.178,60 e gastou R$ 84.622,00.
É uma contabilidade detalhista. Sabe-se que foram gastos R$ 180 na compra de sementes para a horta e R$ 216,24 com xerox.
"Transparência de caixa é fundamental. Faz com que os doadores confiem no nosso trabalho", diz a alemã Renate Keller Ignacio, 46, professora de educação artística na favela.
Os principais financiadores são a Prefeitura de São Paulo (R$ 28 mil ao mês), Fundação Abrinq (R$ 9.400), Associação dos Menores Carentes (R$ 3.500) e Associação Beneficente Tobias.

Texto Anterior: BC não tem como controlar
Próximo Texto: Governo quer mudar legislação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.