São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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Militares queriam Tancredo no Planalto

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Tancredo Neves (1910-1985) chegou a ser cogitado para a Presidência da República. Mas não pela aliança entre oposicionistas e dissidentes do regime militar, que se juntaram, em janeiro de 1985, para lhe dar no Colégio Eleitoral um mandato que ele não sobreviveu para exercer.
Bem antes que isso ocorresse, o próprio presidente João Baptista Figueiredo chegou a acreditar que Tancredo, um antológico inimigo dos radicalismos, seria um bom nome para sucedê-lo.
Esta é uma das revelações contidas nas 649 páginas das memórias de Jarbas Passarinho, 76. Como tenente-coronel do Exército, governador do Pará, três vezes senador e quatro vezes ministro, ele é o dono de uma das biografias mais densas e politizadas da recente história republicana.
"Um Híbrido Fértil", com lançamento programado em princípio para a próxima quarta-feira, relata, a respeito de Tancredo, que em fevereiro de 1980 o então senador mineiro deixa o MDB e tenta fundar o PP (Partido Popular), em companhia de um grupo de oposicionistas moderados.
Segundo Passarinho, na época líder do governo no Senado, o Executivo já sentia a "fadiga do poder e via, na dissidência aberta por Tancredo, mais do que imaginava com a reformulação partidária".
Com a oposição se dividindo, "Tancredo passou a ser encarado como uma possibilidade na sucessão presidencial. As palavras que o presidente Figueiredo já usava em relação a ele evidenciavam clara mudança de julgamento. Havia até certa insinuação ao nome de Tancredo como possível solução pacificadora".
Mas o desfecho da história foi outro. Depois de um encontro secreto de Tancredo com Figueiredo, no qual condicionou a viabilização do PP à inexistência do voto vinculado -obrigatoriedade de o eleitor só votar, em 1982, em candidatos de um mesmo partido- a vinculação acabou sendo adotada.
Tratava-se de uma solução para fortalecer o PDS, novo partido do governo. Com ela, para ter chances ao disputar o governo de Minas, Tancredo voltou ao MDB (já rebatizado de PMDB) e, cinco anos depois, derrotou Paulo Maluf na eleição presidencial indireta.
As memórias de Jarbas Gonçalves Passarinho começam por Xapuri, cidade do Acre onde nasceu em 1920, já na decadência do ciclo da borracha. Seu pai, proprietário de um estaleiro de reparação de barcos, encaminha os filhos para estudarem em Belém (PA).
É lá que, bibliófilo precoce e literato de ocasião, ele decide prestar concurso para a carreira militar. Muda-se para o Rio e acaba classificado em primeiro lugar no vestibular da escola de formação de oficiais de Porto Alegre.

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