São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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Órgãos internacionais descartam crise

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A sequência de previsões pessimistas do economista Rudiger Dornbusch sobre o futuro do Plano Real no fim-de-semana passado atingiu os mercados financeiros mas não abalou a confiança das organizações multilaterais no futuro imediato do país.
Pelo menos é o que se pode depreender das declarações ouvidas durante a semana pela Folha de alguns dos principais dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (Bird) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O presidente do BID, Enrique Iglesias, demonstrou surpresa com a reação das bolsas de valores no Brasil e do mercado de moedas em Nova York: "Que mercados são estes?", disse.
"O Brasil não tem nenhum problema que não seja administrável", segundo Iglesias, que foi a primeira pessoa recebida pelo novo ministro do Planejamento, Antonio Kandir, após a sua posse na semana passada.
Produtividade
Para Iglesias, enquanto a produtividade estiver crescendo, as exportações se mantiverem em alta, a tendência do déficit fiscal for de baixa e a inflação ficar controlada, o governo controlará a situação.
Ele, como todas as demais pessoas ouvidas pela Folha, acha que as reformas fiscais são indispensáveis para consolidar o programa econômico. Mas acredita que elas virão em tempo.
O economista-chefe do FMI, Stanley Fischer, disse que "o Brasil tem tido um histórico soberbo de estabilização e redução da inflação".
Reformas
"O país também tem uma balança comercial essencialmente equilibrada, muitas reservas e não enfrenta qualquer risco de curto prazo de crise monetária", disse.
Fischer diz que "é claro que é preciso perseverar na consolidação fiscal e nas reformas estruturais para se ter as bases para a estabilização permanente e um vigoroso crescimento sustentado".
Para o diretor do Departamento de Brasil do Bird, Gobind Nankani, "se os mercados olhassem para os fundamentos da política econômica, eles não estariam preocupados" com a possibilidade de crise.
Segundo Nankani, todos os indicadores recentes da economia brasileira são tranquilizadores: o déficit em conta corrente está diminuindo, a inflação sob controle, o PIB (Produto Interno Bruto) em alta, as taxas de juros em baixa.
Imprevistos
Nankani diz que o governo tem demonstrado muita competência para lidar com imprevistos e determinação em manter a inflação sob controle.
"Seria bom que as taxas de juros caíssem mais depressa e o crescimento da economia fosse maior, mas não se isso provocasse o risco de aumentar a inflação de novo".
Na opinião de Nankani, uma "revolução silenciosa" está sendo realizada nas finanças estaduais e ela terá grande efeito macroeconômico a médio prazo.

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