São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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Índia pode não ser vedete emergente

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Os cronômetros da globalização precisarão de um ajuste. Por mais que os discursos celebrem a rápida restauração da calmaria global depois da crise mexicana, alguns países continuam cabendo mal no figurino do ajuste global. A Índia é o exemplo mais recente.
O Partido do Congresso dominou a cena por 44 dos 47 anos de independência do país. Perdeu as últimas eleições. O gabinete instalado na semana passada divulgou um programa econômico que limita as privatizações, coloca restrições ao investimento estrangeiro e muda o roteiro da liberalização comercial. A liberalização ganhou impulso em 1991, por iniciativa do primeiro-ministro Narasimha Rao, recém-derrotado.
BEM
A Índia é um dos países classificados pelo governo Clinton como "Big Emerging Market" (BEM). No ano passado sua economia vinha se firmando como uma nova vedete no panteão das emergentes.
O Departamento de Comércio americano faz uma descrição entusiasmada do país em seu guia para 1996. Espera-se que o país seja o mais populoso em 2060. É auto-suficiente em alimentos. Tem uma estrutura industrial diversificada, uma base tecnológica invejável e bons recursos humanos.
A Índia, com sócios americanos, é um dos maiores exportadores mundiais de software. O setor de tecnologia da informação indiano cresceu à taxa anual de 25% no início da década. Os EUA calculam que a classe média indiana, com capacidade de consumo, pode chegar a 300 milhões de pessoas.
Em 1991, 52,7% das exportações americanas para o país eram de fertilizantes. Em 1993 essa participação tinha caído para 13,3%, e o principal produto de exportação para a Índia eram partes e equipamento aeronáutico. O Bird previa um aumento anual das importações indianas da ordem de 12% entre 1994 e 1997. Entretanto, somente no período entre 1994 e 1995 o aumento foi de 22%.
Mas o Estado ainda é enorme. Bancos estatais respondem por 88% dos depósitos e empréstimos. As taxas de juros são controladas e os empréstimos direcionados para setores definidos pelo governo.
Há uma política estatal de compras que favorece produtores indianos. A Índia, segundo informa o relatório dos EUA, não é signatária do acordo do Gatt para políticas de compras governamentais, que exige acesso aberto a empresas estrangeiras nos contratos oferecidos pelo governo.
A liberalização em muitos setores ainda está emperrada, a começar pelas telecomunicações. O processo de privatização é lento. O orçamento para o ano fiscal 95/96 inclui tarifas sobre importações que chegam a 50%, protegendo setores industriais nacionais como o de bens de capital e o de insumos semimanufaturados.
O programa divulgado na semana passada anuncia políticas fiscais e regulamentação com o objetivo de direcionar o investimento externo para setores que o governo considerar adequados. O de bens de consumo será protegido.
Como dizia o ex-ministro do Comércio, P. Chidambaram, citado no relatório americano, os indianos ainda agem movidos pelo "fantasma da Companhia das Índias Orientais".

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