São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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Metrópole indiana une miséria e globalização

GILBERTO DIMENSTEIN e
MAURICIO STYCER

GILBERTO DIMENSTEIN; MAURICIO STYCER
ENVIADOS ESPECIAIS A ISTAMBUL

Com uma pele clara apreciada pelos indianos, meninas do Nepal são traficadas e mantidas como escravas sexuais em bordéis espalhados por Bombaim.
Graças à cor mais esbranquiçada, mais próxima das mulheres ocidentais, elas são comercializadas por preços mais elevados, atraindo o interesse da elite local.
Por trás do comércio sexual, operam gangues ligadas ao tráfico de drogas -as gangues são beneficiadas pela impunidade. "Vi políticos entrando nos bordéis para pegar crianças, sem o menor constrangimento", diz Minar Pimple, que trabalha com meninos de rua.
"São vistas na rua em plena luz do dia, e ninguém se sensibiliza", afirma Anita Prayar, indiana ligada a um movimento feminista em Nova York, mas associada ao trabalho de base nas favelas.
Ao entrar nessa rota de tráfico humano, feministas de direitos humanos do Nepal descobriam a conivência ou omissão da polícia, mas recuperaram 40 dessas meninas; muitas delas, porém, já estavam com Aids.
Essas história foi divulgada esta semana na Habitat 2, a Conferência de Assentamentos Humanos da ONU, em Istambul, e apenas reforçou a imagem de que Bombaim, a cidade que vai ser a mais populosa do mundo até ano 2025, é o exemplo mais acabado do caos nas chamadas "megacidades".
Centro financeiro e industrial da Índia, porta para a globalização do país, Bombaim tem em suas crianças o espelho de seu colapso -da mortalidade infantil, provocada pela água poluída, até a mão-de-obra escrava ou semi-escrava.
Centenas de famílias chegam do campo buscando emprego que não existe e se refugiam em moradias improvisadas -55% da população vive sem condições de higiene. A cidade é considerada a "maior favela do mundo".
Diferentemente de muitos urbanistas, que consideram Bombaim um caso perdido, Prasad acredita na recuperação da cidade. Um plano de reurbanização de favelas, em curso, pretende tirar 1 milhão de pessoas de barracos e colocá-las em pequenos apartamentos.
As principais favelas estão no centro da cidade, sendo que metade dos terrenos são públicos.
A idéia é erradicar algumas áreas que pertencem ao governo, vender parte dos terrenos para a iniciativa privada e, com os recursos, financiar a construção dos imóveis. Enquanto os prédios são construídos, os moradores ficarão em abrigos provisórios fora de Bombaim.

A Folha publica hoje, com exclusividade no país, mais uma série de fotos do brasileiro Sebastião Salgado, o mais importante fotógrafo documental da atualidade. Na série de hoje, Salgado retrata o cotidiano de Bombaim, um dos principais pólos de migração na Índia.

Na Marina Drive, em Bombaim, uma grande quantidade de mendigos busca abrigo durante a noite, tendo ao fundo os prédios modernos da maior cidade indiana, com população de 12,8 milhões (censo de 1991)

Indianos lavam roupa em Mahalaxmi Dhobighat, um complexo para a atividade que reúne 6.000 trabalhadores, a maioria do Estado de Uttar Pradesh, que ganham entre 1.500 e 2.000 rúpias (US$ 45 a US$ 60) mensais

Pescadores atiram peixes pequenos para outros trabalhadores no cais Sasson (ao lado), aonde chegam os barcos pesqueiros do porto de Bombaim; abaixo, na hora do rush, passageiros do superlotado sistema ferroviário da cidade, que transporta 6 milhões de passageiros por dia em vagões separados por sexo

Indianas carregam cestos com peixes prontos para serem vendidos (acima, à esq.) no cais Sassoon; ao lado, erguida junto a arranha-céus de arquitetura moderna, a favela de Damunagar (a segunda maior da Ásia), cuja população cresce mais rápido do que a de Bombaim e ocupa grande parte da periferia da cidade, em uma área até então despovoada

Pela estação ferroviária de Church Gate (acima) passam 2,7 milhões de pessoas; um denso comércio popular ocupa as margens da linha férrea, sem espaço em outros setores da cidade (abaixo); ao lado, o mercado Crawford, construído pelos britânicos há 67 anos e prestes a ser destruído e transformado em estacionamento

Multidão de se aglomera em torno de barcos pesqueiros no cais de Sasson, onde peixes grnades são içados manualmente pelos trabalhadores do porto; abaixo, poço artesiano coletivo em uma das favelas da cidade, que não recebem água encanada e transformam o abastecimento hidráulico em um dos principais problemas de saúde pública de Bombaim

Operários da construção civil descansam durante intervalo em obra de Bombaim (acima), uma das cidades que mais crescem no mundo e mais empregam trabalhadores nessa atividade; ao lado, a favela Mahim, próxima ao aeroporto, construída junto a um aqueduto que abastece a região mais rica da cidade e serve de passarela para os moradores

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