São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISPARIDADES RACIAIS

Fator decisivo para a superação do sistema colonial, o fim do trabalho escravo foi seguido pela criação do "mito da democracia racial" no Brasil. Nutriu-se desde então a falsa idéia de que haveria no país um convívio cordial entre as diversas etnias.
Aos poucos, porém, pôde-se ver que a coexistência pouco hostil entre brancos e negros, por exemplo, mascarava-se sob a manutenção de uma descomunal desigualdade socioeconômica entre os dois grupos e não advinha de uma suposta divisão igualitária de oportunidades.
O cruzamento de alguns dados do último censo do IBGE relativos ao Rio de Janeiro permite dimensionar algumas dessas inequívocas diferenças. Em 91, o analfabetismo no Estado era 2,5 vezes maior entre negros do que entre brancos, e quase 60% da população negra com mais de 10 anos não havia conseguido ultrapassar a 4ª série do 1º grau, contra 39% dos brancos. Os números relativos ao ensino superior confirmam a cruel seletividade imposta pelo fator socioeconômico: até aquele ano, 12% dos brancos haviam concluído o 3º grau, contra só 2,5% dos negros.
É inegável que a discrepância racial vem diminuindo ao longo do século: o analfabetismo no Rio de Janeiro era muito maior entre negros com mais de 70 anos do que entre os de menos de 40 anos. Essa queda, porém, ainda não se traduziu numa proporcional equalização de oportunidades.
Considerando que o Rio de Janeiro é uma das unidades mais desenvolvidas do país e com acentuada tradição urbana, parece inevitável extrapolar para outras regiões a inquietação resultante desses dados.
Mesmo questionando algumas iniciativas excessivamente rígidas -como a criação de "cotas raciais" no oferecimento de vagas nas universidades e no mercado de trabalho, bastante comum nos EUA-, é fundamental que se destaquem também as desigualdades étnicas, para que seja possível avaliar, com máximo realismo, as dimensões exatas da brutal dívida social brasileira.

Texto Anterior: RAÍZES DO BRASIL
Próximo Texto: SINAL AMARELO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.