São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 1996
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"O que acontecer aqui vai afetar o nosso futuro"

MAURICIO STYCER
DO ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

Gonca Túrkees, 16, vive em Istambul, onde estuda no equivalente ao segundo ano do 2º grau. Está trabalhando junto às organizações de jovens turcas na Habitat 2. "O que acontecer aqui vai afetar nossa vida no futuro", diz.
Ernesto Jara tem nome de guerrilheiro e sobrenome de cantor de música de protesto. Tem 20 anos e mora em San Jose, Costa Rica. Estuda comunicação e já trabalha na área, fazendo publicações educativas para populações de baixa renda. Ele lamenta que os jovens da América Latina não tenham "se mobilizado" para a Habitat 2.
A canadense Amelia Clarke tem 23 e acaba de se formar em biologia. Mora em Halifax, cidade na província de Nova Scotia. Embora participe de uma conferência sobre assentamentos urbanos, não faz a menor idéia do tamanho da população da sua cidade. "Nunca perguntei a ninguém", diz.

Folha - O que você está fazendo em Istambul?
Túrkees - Esta é a última conferência do século. Não podia deixar de fazer parte. Além disso, quando eu poderia conhecer tantas pessoas de outros lugares do mundo?
Jara - Acho importante trazer uma perspectiva latino-americana e ajudar a ampliar os espaços dos jovens no mundo.
Clarke - Vim para trabalhar na organização do encontro. Estou ajudando a escrever o documento que será apresentado ao secretário-geral da Habitat 2.
Folha - Qual é o maior problema dos jovens da sua cidade?
Túrkees - Educação. É muito difícil conseguir estudar e chegar à universidade. Para entrar, você precisa fazer um exame muito difícil (como o vestibular brasileiro). Acho que, de cada quatro candidatos, só um consegue entrar. Vou começar a me preparar este ano e tentar daqui a dois anos.
Jara - Por falta de opções de estudo e de trabalho, muitos jovens na Costa Rica vivem em gangues de rua. Eles acabam se envolvendo em violência e com drogas.
Clarke - As grandes empresas mandam na cidade, controlam a mídia e a vida das pessoas, financiam programas educacionais e acabam determinando a "agenda" da cidade.
Folha - Qual é o maior problema dos jovens da sua cidade que a Habitat 2 pode ajudar a resolver?
Túrkees - A urbanização desorganizada de Istambul. Há lugares bonitos na cidade, mas muitos lugares feios e pobres. O que acontecer aqui vai afetar a nossa vida no futuro.
Jara - Reforçar a necessidade de educação. Cada vez menos jovens conseguem chegar à universidade porque precisam trabalhar.
Clarke - Nós não temos canais para falar dos nossos problemas. Não temos representação política. A taxa de desemprego entre os jovens é quase o dobro da média.
Folha - Você acha que os problemas de cidades desenvolvidas se parecem com os problemas de cidades subdesenvolvidas?
Túrkees - Acho que sim. Todos têm problemas parecidos de urbanização, educação e violência.
Jara - Os canadenses estão preocupados porque o Estado está dando menos dinheiro para as atividades dos jovens. Na Costa Rica, o problema é que o Estado não dá dinheiro algum.
Clarke - Todos sofrem com a degradação do meio ambiente.
Folha - Você acha que os jovens dos países do Primeiro Mundo devem ajudar os do Terceiro Mundo?
Túrkees - Acho que deveriam, mas não ajudam. Estamos todos numa mesma estrada, só que eles estão lá na frente e nós, no início. Eles não estão preocupados em nos ajudar a chegar lá.
Jara - Acho que sim, mas acho que nós também podemos ajudá-los. As dificuldades dos jovens do Terceiro Mundo nos estimulam a encontrar soluções criativas para os problemas. Podemos "exportar" essas soluções para o Primeiro Mundo.
Clarke - Sim e não. Não acho que devemos ajudar pura e simplesmente, mas trabalhar juntos para encontrar soluções para os problemas deles.
(MSy)

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