São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 1996
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Agonia de Allen dá tom a "Neblina e Sombras"

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Neblina e Sombras" (Globo, 2h10) é o ponto terminal da obra de Woody Allen com Mia Farrow: um filme agônico, que o diretor diz ser mais influenciado por Kafka do que por Bergman.
Numas. Em primeiro lugar, "Neblina e Sombras" transpira psicologia, elemento a que a obra de Kafka é impermeável.
Em segundo, o filme é de uma fidelidade canina ao título. E Kafka é um escritor de uma claridade sufocante. Se fosse cineasta, filmaria sempre com lente grande angular, de maneira a deixar toda a imagem em foco, nítida.
Talvez não seja absurdo dizer que o mistério, em Kafka, vem da clareza. Digamos que o personagem seja Gregor Samsa, de "A Metamorfose": depois de uma noite de sono, ele acorda transformado em um terrível inseto. Ponto. Nada menos prolixo, nada menos retórico.
"Neblina e Sombras" é, ao contrário, o filme de uma alma que se retorce em pesadelos, a história de uma noite que nunca parece chegar ao fim. Ou, se se preferir, o elogio da bruma.
Os fãs mais ardorosos de Woody Allen desanimaram. Não tinham razão: pouco depois, ele se separava de Mia e começava a colocar os filmes numa rota menos carregada de angústia.
Mas não a falta de angústia de "Top Gang 2 - A Missão" (Globo, 21h40), em que Jim Abrahams retoma o veio paródico de "Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu".
É um belo exemplo do espírito "trash" que está atualmente na moda. O sujeito faz a coisa que não vale nada, sabe que não vale nada, mas transforma aquilo em valor. Resultado: "Top Gang 2" não faz rir.
(IA)

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