São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 1996
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Capadócia brilha com arquitetura 'fugaz'

JOÃO BATISTA NATALI
DO ENVIADO ESPECIAL À TURQUIA

Um grupo de arqueólogos descobriu, em 1965, vestígios de assentamentos neolíticos -coisa de 9.000 a.C.- no centro da Anatólia, a porção asiática da Turquia.
Mas não é por essa forma de antiguidade que a região da Capadócia se tornou conhecida.
Ela vale sobretudo pela bela aridez lunar da paisagem, por suas moradias esculpidas nas montanhas e suas cidades subterrâneas, com até 85 m de profundidade.
É um lugar estranho, esquisito. O homem que por ali passou não construiu sobre a terra. Ele escavou a terra para morar dentro dela ou periodicamente se refugiar debaixo dela para escapar ao saque ou à degola dos invasores.
A Capadócia cobrou da natureza uma dívida curiosa: o que não recebeu em terrenos férteis ela acabou ganhando com um tipo de pedra vulcânica fácil de esculpir.
Seus dois vulcões, o Ercies e o Hassan Dagi, estão inativos há 8.500 anos. Mas, antes de pararem de cuspir fogo, eles deixaram o chão coberto de uma camada às vezes de tênue petrificação, outras vezes de uma areia que o vento e a chuva carregam com facilidade.
Chaminé das fadas
O resultado dessa mistura geológica foi a aparição de protuberâncias cônicas, altas muitas vezes como um prédio de 20 andares, poeticamente designadas, na região, como "chaminé das fadas".
Dentro delas ou em montanhas de forma menos definida, a população nativa acabou escavando suas moradias permanentes e se tornou meio "troglodita" por quase 2.000 anos.
Isso durou até 1953, quando uma lei forçou, com base nos periódicos desmoronamentos e das vítimas que eles faziam, a mudança desse costume habitacional.
Não havia nisso, rigorosamente, nada de "primitivo". As casas esculpidas dentro das montanhas mantinham uma temperatura que dispensava o aquecimento durante o inverno ou a refrigeração com a chegada do verão.
Elas guardam linhas simétricas. As paredes e os tetos são retilíneos.
Há sofisticação arquitetônica quando, em vez de casas, igrejas cristãs e mesquitas são cavadas como grutas comunitárias.
São ambientes que reproduzem, com suas cúpulas arredondadas e suas colunas meio 'fakes' -são colunas que não seguram peso algum-, o volume interno das edificações construídas ao ar livre.
E há também o que a erosão deixou sobrar de um castelo, o de Uchisar, escavado a partir do século 1º, localizado no centro de um vale chamado dos Pombais.
A razão do nome: algumas grutas deveriam atrair os pombos porque o excremento que eles produziam era o único produto capaz de adubar as terras cultivadas. (JOÃO BATISTA NATALI)

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