São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 1996
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Agitação no mercado

CELSO PINTO

O Morgan Grenfell, um banco de investimentos britânico comprado em 1989 pelo alemão Deutsche Bank, consumou, semana passada, um ataque de peso sobre as fileiras do concorrente holandês ING Barings, que deixou sequelas no Brasil e foi parar na Justiça.
De uma só vez, o Morgan levou 44 funcionários que operavam em corretagem e pesquisa no mercado acionário latino-americano para o ING Barings. O principal botim foi no Brasil, de onde o Morgan levou 15 funcionários. Do México foram outros 8 funcionários, da Argentina mais 8 e 6 do Chile. Fernando Gentil, principal executivo do ING Barings no Brasil, calcula que a investida do Morgan acabou com 70% a 80% dos funcionários das áreas de pesquisa e corretagem de ações na América Latina.
O Morgan não tinha uma presença tão significativa nessa área. Decidiu comprar um pacote pronto.
Ontem, o ING Barings reagiu. Abriu um processo em Nova York contra o Deutsche Morgan Grenfell, pedindo uma indenização de US$ 10 milhões por indução à quebra de contrato, apropriação indébita de informações confidenciais, interferência em relações de negócios e conspiração para quebra de obrigação fiduciária, entre outros itens. O próprio Gentil diz que o objetivo do processo é menos ter uma compensação financeira do que intimidar o Morgan a não tentar repetir o feito e, principalmente, não usar informações confidenciais, ou assediar clientes do ING Barings.
Roubar equipes não é algo desconhecido no mercado financeiro, mas não na proporção utilizada pelo Morgan Grenfell. Bancos de investimento, tanto quanto agências de publicidade, dependem crucialmente das pessoas.
A operação do Morgan Grenfell foi cuidadosamente arquitetada. Há seis semanas, o chefe de corretagem para a América Latina do ING Barings em Nova York, Jonathan Beatson-Hurd, foi demitido quando se descobriu que ele estava recrutando membros da equipe para ir trabalhar no Morgan. Beatson-Hurd saiu, mas acabou levando junto outros 44 membros da equipe.
A maioria absoluta dos que saíram era da equipe original do Barings, o banco britânico que quebrou depois que se descobriu uma fraude bilionária e que foi comprado, em março do ano passado, pelo holandês ING.
Como tantas outras operações de absorção de instituições no mercado internacional, como a compra da Warburg pelo Swiss Bank Corp., ou do próprio Morgan Grenfell pelo Deutsche, a compra do Barings gerou ruídos.
No Brasil, quando o ING comprou o Barings, acabou absorvendo 15 funcionários na área de corretagem e pesquisa. Essa área depois cresceu para 25 pessoas. Dos 15 funcionários originais do Barings, 12 acabaram saindo, agora, para o Morgan Grenfell.
Gentil lamenta, mas diz que essa acabou sendo uma oportunidade para o ING Barings reestruturar seu negócio na área de ações e ficar apenas com os funcionários que se adaptaram ao estilo dos holandeses.
A área de ações representa cerca de US$ 10 milhões em receita anual para o ING no Brasil, ou algo como 10% de seus negócios totais no país. Gentil diz que os clientes, até agora, mantiveram sua lealdade com o ING Barings.
O fato é que a área de pesquisa em ações da América Latina do antigo Barings era considerada uma das melhores no mercado internacional. O ING pagou pelo Barings US$ 1 bilhão (em dívidas que foram assumidas). Uma das vantagens do negócio era exatamente levar junto algumas áreas respeitadas no mercado. Gentil lembra, de todo modo, que junto com o Barings vieram US$ 40 bilhões em ativos de terceiros, que continuam com o ING. Esse não foi o primeiro ataque do Morgan Grenfell contra concorrentes. Ele já havia levado equipes da corretora britânica James Capel, do banco de investimentos americano Morgan Stanley e do banco de investimentos britânico S.G. Warburg.
Nada, contudo, numa proporção comparável à da operação contra o ING Barings. Se depender do ING Barings, a guerra pára por aí. Gentil jura que não pretende repor sua equipe comprando um pacote fechado de outro concorrente. No fundo, o episódio é mais um exemplo do acirramento da concorrência entre instituições financeiras internacionais pelo mercado acionário brasileiro e latino-americano.

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