São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 1996
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Pelo andar de 96, 98 estará mais para latinos

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, está faltando no Velho Mundo do fut aquilo que anda sobrando aqui pelo admirável Novo Mundo do fut: gols.
Em nove jogos da Eurocopa, o futebol mais caro do mundo marcou apenas seis, repito, mirrados seis golzinhos.
Se, na matéria futebol, fosse possível aplicar o critério da relação custo/benefício, que os economistas modernos adoram, o Campeonato Paulista deste ano seria capa da revista "The Economist", a bíblia desses senhores que vão salvar o mundo, editada justamente no país que hospeda a Eurocopa, até agora, tão avara em gols.
Em termos de gols, o padrão de excelência do Primeiro Mundo está entre as aves que gorjeiam por aqui, e não entre as que gorjeiam por lá...
Uma breve viagem me impediu de ver os jogos iniciais do torneio (o que lamento, porque, mesmo quando o nível não está bom, a Eurocopa é uma delícia de guerra).
Li que Portugal jogou bem. Não me surpreende se fizer uma boa campanha. Hoje tem um bom jogador português em cada grande time da Europa.
Além disso, a seleçãozinha de gajos, a versão além-mar da nossa teenbolada, vem ganhando ou chegando à final de um monte de torneios para divisões de faixas etárias menores, nos últimos tempos.
Sobram, portanto, condições para a turma da terra do grande compositor Alfredo Marcineiro poder apresentar uma boa campanha, pois, pois (o que não quer dizer que ela ganhará a Eurocopa, porque aí são outros quinhentos).
Também não chega a ser uma grande surpresa o fato de as seleções do Velho Mundo não estarem apresentando grande futebol nessa versão 96.
Afinal, o futebol europeu se encontra em fase de transição. Com exceção do Ajax, que também já entrou na curva declinante, nenhum time da Europa está em grande fase, ou, pelo visto, tem futebol para dar e vender como tinha a Holanda de 88, com Gullit, Van Basten e cia., ou a França de 84, com Platinix, o "golês", comendo a bola.
O futebol europeu está sem um grande craque, sem uma grande escola, sem um esquema tático inovador.
A Holanda/Ajax, ontem, tá certo que ressentindo-se da ausência, e, depois com ele em campo, da boa forma do Kluivert, apresentou um rendimento ainda menor do que o da Copa dos EUA, além de não variar no seu esquemático sistema de três atacantes.
Por falar em transição, a Itália, que, desde que Arrigo Sacchi assumiu o comando, vive a mais longa das transições da história, volta a campo hoje, mas, pelo que se viu no resumo da ópera, mesmo que consiga desenvolver um futebol vencedor, dificilmente apresentará algo radicalmente inovador (e olha que eu escrevo torcendo para queimar a minha língua, porque estou louco para ver uma seleção de fut batendo um bolão).
A Alemanha colheu um bom resultado. Já se sabe: está sempre atrás de um bom resultado. A Espanha tem grandes promessas, como os garotos Raul, Kiko e De La Peña, além do Camiñero, que aprendi a gostar na Copa. Mas e daí?
Pelo andar de 96, 98 está mais para a América do Sul do que para a Europa.

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