São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 1996 |
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Tunga mostra encontro como imersão
CELSO FIORAVANTE
"Os desenhos são eróticos. Eu chamo os bronzes de pornográficos, embora não sejam explícitos. Mas esse encontro de corpos, esse encontro de coisas e o modo dessas coisas se encontrarem me interessa", disse. Nos bronzes, Tunga resolve este encontro com o uso de pátina, ácido que corrói o metal e lhe dá uma cor esverdeada, simulando a passagem do tempo e dando uma continuidade à peça. Em sua mostra anterior, na mesma galeria, Tunga trabalhava com bronzes maquiados. "A sequência é inevitável. Naquela exposição usei maquiagem nas peças. Na maquiagem dessa exposição, uso pátina, que é um ácido extremamente venenoso. Foi um jeito de falar dessa mesma maquiagem, mas de uma maneira mais clássica", disse. Nos nove bronzes, Tunga trabalha com quatro formas básicas -cálice, garrafa, sino e funil- e o desenvolvimento que o contato entre elas provoca. Os desenhos -antropomórficos- reproduzem atos sexuais entre seres por vezes simbiônticos, por vezes híbridos. Ao trabalhar o contato em bronzes e desenhos, Tunga quer tratar do conceito de "imersão". "Eu acho que esta mostra é uma sucessão de imersões, uma sucessão de contatos, de possibilidades de relações. É um modo diferente de se pensar a presença das coisas. Quando se fala em espaço há sempre o resíduo da noção newtoniana de espaço, daquele espaço onde as coisas são colocadas e ocupam seus espaços." Tunga diz ainda que a noção de imersão substitui essa noção de espaço na medida em que uma coisa está imersa em um local que está imerso em um outro local. "Também é possível ampliar essa noção e pensar que a imersão não é apenas uma coisa física, mas cultural, algo que está imerso em uma cultura, em um sentido." Tunga tem cancha de imersão. Traz o conceito imerso no próprio nome. Em 1952, quando nasceu, o artista plástico se chamava Antonio José de Barros Carvalho Mello Mourão. Virou Tunga ao ser apresentado a seu irmão. "Ele era um ano mais velho que eu e estava começando a falar quando eu nasci. Quando fui apresentado, ele disse apenas Tunga. Aí ficou", contou o artista. Mas segundo o dicionário "Aurélio", "tungar" significa ainda "embeber um pedaço de pão no café, para o amolecer". Mostra: Tunga (homônima) Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João Manuel, 974 A, tel. 011/280-2471, Jardins Vernissage: hoje, às 19h Texto Anterior: Cama de Gato enfrenta os bolerões Próximo Texto: Português Rui Chafes cria corpos e armas Índice |
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