São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 1996
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Stripers comentam "Showgirls"

Filme estréia na sexta em SP

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

Estréia nesta sexta-feira o filme "Showgirls", da dupla Paul Verhoeven (diretor) e Joe Eszterhas (roteirista), a mesma de "Instinto Selvagem".
"Showgirls" foi o grande ganhador do troféu Framboesa de Ouro 95, premiação dada ao pior filme do ano, vencendo em várias categorias, entre elas a de pior filme, pior roteiro e pior atriz. Verhoeven foi pessoalmente receber os prêmios. Depois disso, não quis saber de entrevistas.
A convite da Folha, as strippers Malu Bailo, 27, e Eli Brito de Lima, 22, assistiram ao filme. Bailo é a estrela das "segundas-feiras eróticas" do restaurante e bar Helena.
Fazendo strip-tease, ela reinterpreta personagens como Lolita, Jackie O., Leila Diniz, Audrey Hepburn e Rita Hayworth. Elis, como é mais conhecida, dança e faz strip-tease de segunda a sexta, na boate Kilt, no centro.
Malu achou o filme ruim: "Não ficou erótico. O lado explícito e sensual do filme não acontece, a história é meio vazia. Esta não é a vida das strippers. Ficou tudo muito vulgar, cafona. Para fazer um strip-tease legal é preciso sentir a música. No meu show, danço os temas dos filmes 'Bonequinha de Luxo' ('Moon River') e 'Gilda'. Eles não foram felizes nem na escolha das músicas. Não têm clima algum", conta.
Já Elis, que faz seu strip-tease com músicas de Madonna, achou que o filme reproduz bem o ambiente dos clubes de strip-tease em São Paulo.
"Isso é a realidade. O filme retrata bem o sonho de toda garota, querer ser famosa. Não vi nada artificial. Recebemos cantadas e também somos convidadas para ir a hotéis de luxo com os clientes", resume.
O filme
"Showgirls" enfureceu feministas, gays (assim como em "Instinto Selvagem") e a indústria de Hollywood. Sua história gira em torno da stripper Nomi Malone (Elizabeth Berkley) e seu único objetivo na vida: ser famosa.
Chega a Las Vegas de carona, arruma uma amiga, Molly (Gina Ravera) na sua primeira noite e logo arranja trabalho num clube de strip-tease, onde dança seminua, além de ser obrigada a dançar a erótica "lap dance" (dança de colo), em particular, com o freguês que a requisitar.
Ajudando a sua escalada rumo ao estrelato (cada um à sua maneira), estão a top stripper Cristal Connors (Gina Gershon) e o diretor do cassino Stardust, Zack Carey (Kyle MacLachlan).
Connors, a estrela do Stardust, num show chamado "Deusa", é namorada de Zack, mas não esconde os seus instintos homossexuais e sua atração por Malone.
"Showgirls" é tão ruim que diverte. Tem os piores diálogos, as piores coreografias, degrada as mulheres e tem ainda uma violenta cena de estupro. Elizabeth Berkley é péssima. Atua com tal intensidade que chega a ser constrangedor.
Como dançarina (e sua coreografia "Flashdance") não é melhor, já que tem que dançar como se estivesse transando. "Showgirls" é sua estréia no cinema.
A tentativa de fazer um filme sensual e erótico não vingou. As cenas de sexo são fracas e as referências a um possível caso homossexual entre Connors e Malone são patéticas. O final, moralista, idem.
Os mesmos temas foram melhor abordados e as situações estavam mais explícitas em "Instinto Selvagem". Em "Showgirls", Malone chega no topo, mas decide abandonar tudo, sem esquecer de se vingar de todos.
Mas Verhoeven consegue prender a atenção do espectador. Com uma fotografia exemplar, criou um ambiente perfeito, graças à pesquisa intensa que fizeram pelos clubes de strip-tease de Las Vegas.
O objetivo do filme, segundo Eszterhas, foi mostrar o lado escuro do sonho americano. Mas "Showgirls" prova mesmo o quão ingênuo e sem graça este sonho pode ser, quando falta talento.

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