São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 1996
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Fórum da paz começa sem o Sinn Fein

IGOR GIELOW
DE LONDRES

O fórum para discutir a paz na Irlanda do Norte começou ontem sem a principal peça do processo, o partido católico Sinn Fein.
Como o IRA (Exército Republicano Irlandês), a guerrilha que prega a união da Província com a República da Irlanda e que é ligada ao partido, não renovou seu cessar-fogo, o Sinn Fein não pôde entrar na sala de reuniões.
A proibição, feita pelos governos britânico e irlandês, frustrou a estratégia do Sinn Fein e de seus três delegados: Gerry Adams (presidente), Martin McGuinness (principal negociador) e Gerry Kelly (líder em Belfast).
Os três chegaram dentro do antigo táxi pertencente à comunidade católica da Falls Road, em Belfast. O táxi, um modelo igual aos que rodam nas ruas de Londres, tem chapas laterais e vidros blindados contra eventuais atentados.
Paz
O fórum está ocorrendo no antigo prédio do Parlamento do Ulster, que foi dissolvido pelo governo britânico em 1972 devido ao agravamento da violência local.
"Viemos aqui para fazer a paz. O governo britânico está dificultando", disse Adams, que chegou a entrar no pátio do prédio, mas não teve acesso à sala de reuniões.
Para Martin McGuinness, que é conhecido por ter liderado o IRA em Londonderry na década de 70, o Sinn Fein é algo diferente do grupo terrorista. "As conversas não têm validade sem a gente", disse.
O fórum, que teria 20 membros se o Sinn Fein tivesse participado, foi escolhido a partir dos 110 membros da assembléia eleita no dia 30 de maio por quase 1 milhão de eleitores da Irlanda do Norte.
Ele foi aberto pelo primeiro-ministro britânico, John Major. Em seu discurso, Major reiterou a necessidade de um cessar-fogo total dos católicos e protestantes radicais para evitar a obstrução do processo de paz.
John Bruton, premiê da República da Irlanda, disse que "as regras são claras para todos".
Unionistas
O maior partido no fórum é o Unionista do Ulster, que obteve 24% dos votos na eleição. Moderado, o partido representa os protestantes (50,6% dos habitantes da Irlanda do Norte, contra 38,4% de católicos) que querem a manutenção da Província no Reino Unido.
Mais radicais, os membros do Partido Democrático Unionista (19% dos votos) ameaçam deixar o fórum. Liderados pelo pastor Ian Paisley, eles disseram ontem não reconhecer a autoridade do presidente do fórum, o ex-senador norte-americano George Mitchell.
Homem de confiança do presidente dos EUA, Bill Clinton, Mitchell alinhavou no ano passado seis princípios para a paz na Província e foi convidado agora para liderar o fórum.
Porém, como os Estados Unidos abrigam milhões de descendentes de irlandeses, os unionistas crêem que Mitchell possa conduzir as negociações de forma a favorecer os republicanos.
Paisley, porém, continua por enquanto no fórum. Não há previsão para o fim das conversas.
O IRA já conduziu um longo cessar-fogo, entre 31 de agosto de 1994 e 9 de fevereiro passado, rompido pela explosão que matou duas pessoas em Londres.
O conflito na Irlanda do Norte resulta da manutenção dos seis condados da Província junto ao Reino Unido.
A Irlanda é uma república independente desde 1949 -20 anos depois, a situação na Irlanda do Norte se agravou para o estágio atual do conflito, em que já morreram cerca de 3.200 pessoas.

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