São Paulo, quarta-feira, 12 de junho de 1996
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A questão agrária-1

SYLVIO LAZZARINI NETO

Muito oportuno o editorial da Folha (Pela Reforma Agrária), publicado no último dia 21 de maio.
A tese da via fiscal representa uma contribuição para que a discussão sobre esse tema possa ser exercitada livre da ameaça do conflito armado e aliviada da excessiva carga dada ao seu conteúdo político-ideológico.
Este artigo pretende avançar um pouco mais na compreensão da via fiscal, estendendo a reflexão sobre as partes envolvidas na questão, a começar pelo Incra, cuja estrutura necessita também de reforma.
Frei Vicente do Salvador, um de nossos mais antigos historiadores, observou que os colonos portugueses usavam da terra não como senhores, mas como usufrutuários.
Faz parte da cultura herdada pelo nosso povo o forte apego às propriedades rurais e urbanas como reserva de valor.
Aliás, a Igreja Católica é seguidora desse discutível e já superado conceito de avaliação econômica.
A partir dessa constatação, é forçoso concluir que o desejo de possuir um "pedaço de terra", expresso por muitos dos militantes do MST não-vocacionados para o trabalho rural, não é condizente com o discurso de "distribuir terras para aumentar a produção agrícola e combater a fome".
Ao disputar a propriedade e não o lucro, como preconiza a moderna economia de mercado, deixa-se de lado a racionalidade e se parte para o confronto histérico da disputa patrimonial.
O livro "Os Parceiros do Rei", de José Júlio Senna, ensina que "o desenvolvimento agrícola do Brasil fundou-se na utilização extensiva da terra, em contraposição ao uso intensivo, como ocorreu nos países que se preocuparam em aperfeiçoar tecnologicamente o setor primário de produção, seja porque perceberam que o progresso se baseia em ganhos permanentes de produtividade, seja porque simplesmente não dispunham de abundância territorial".
Todos sabem o que representaram os ciclos da cana e do gado na ocupação territorial do Brasil.
A expansão da produção agrícola baseou-se fortemente no deslocamento da fronteira agrícola, tendo no front a pecuária bovina, porque dela o homem aproveitava a carne, o couro, o leite e sua força de trabalho no campo e no transporte.

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