São Paulo, quarta-feira, 12 de junho de 1996
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Telenovela vive momento de entressafra

Pesquisadores e profissionais debatem na Folha

DA REPORTAGEM LOCAL

A telenovela brasileira não está propriamente em crise -continua atingindo bons índices de audiência e merecendo investimentos maciços das grandes redes.
O gênero, porém, vive um período de entressafra criativa, que tem como causa principal a "falta de audácia". As emissoras temem apostar fichas em novos autores e narrativas.
É o que se conclui do debate "O Futuro da Telenovela no Brasil", que a Folha promoveu anteontem à noite. Participaram do encontro profissionais de televisão e pesquisadores da Universidade de São Paulo.
Foi Renata Pallottini, professora da Escola de Comunicação e Artes da USP, quem primeiro falou em falta de audácia. "Não creio na escassez de novos autores. Creio, sim, na má seleção dos jovens talentos. Os proprietários de TV não têm mais audácia para arriscar em assuntos, cenários e roteiros realmente novos."
A professora lembrou que nem sempre a telenovela careceu de ousadia. "Nos últimos 25 anos, o gênero passou por mudanças que considero muito positivas."
Entre as transformações, Pallottini citou a crescente politização e nacionalização dos temas, o maior cuidado com a coerência dos personagens e o aperfeiçoamento da técnica dramatúrgica.
Lauro César Muniz, que está escrevendo a novela "Quem É Você" para a Globo, também reivindicou audácia, mas não apenas das emissoras.
"Os autores precisam voltar a ouvir o coração." Para tal, disse Muniz, convém que as produções tenham menos capítulos e menos tramas paralelas. "Uma novela não necessitaria, assim, de tantos colaboradores. O escritor poderia criá-la sozinho, como antigamente, o que lhe permitiria resgatar o prazer da autoria."
Roberto Talma, ex-diretor da Globo e hoje trabalhando para o SBT, ponderou que a falta de audácia se deve sobretudo "à grana". "A televisão atingiu tal complexidade que uma ousadia pode resultar em fuga de anunciantes e até na queda do presidente da emissora."
A professora Maria Aparecida Baccega, também da ECA/USP, finalizou a discussão afirmando que a telenovela "tem futuro sim". "O gênero vai evoluir sempre porque se baseia na recepção ativa, na resposta imediata do público."

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