São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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FHC combina eleição e aquecimento

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo Fernando Henrique Cardoso produziu nas últimas semanas uma série de medidas para soltar um pouco a economia.
A construção civil, a indústria e os consumidores já estão sendo beneficiados pelas medidas.
É vital para o projeto político de FHC que o seu partido, o PSDB, saia vitorioso nas eleições municipais de outubro.
Também é vital que a economia do país cresça num ritmo mais acelerado, pois os índices de popularidade do governo tucano começam a andar ladeira abaixo.
Como uma coisa -aquecimento da economia- ajuda a outra -eleição-, os assessores do presidente não se cansam de dizer que o segundo semestre deste ano será um período de prosperidade.
Tudo é apresentado apenas como uma continuidade do Plano Real. Reservadamente, entretanto, alguns assessores tucanos reconhecem que medidas podem ser tomadas para produzir uma coincidência de reaquecimento da economia com eleições municipais.
Algumas medidas já foram tomadas. Outras devem ser anunciadas nos próximos 30 dias. Os efeitos apenas começam a ser sentidos pelo grande público.
Exemplos
As duas medidas mais importantes adotadas até agora:
1) juros - embora a reclamação dos empresários continue grande, as taxas vêm caindo. No ano passado, descontada a inflação, o juro pago pelos títulos federais foi de 29,18%. Neste ano, a projeção é que a taxa fique em torno de 16%;
2) crédito - em abril, o governo liberou o prazo para compras a prazo. Antes, o prazo médio era de quatro meses. Hoje, é de 12.
A reação a medidas desse tipo acontece apenas depois de alguns meses. No caso, a idéia tucana é que tudo -ou grande parte do efeito- possa coincidir com a eleição de outubro.
Em alguns casos, a reação já começou a surgir. O exemplo maior é o da atividade industrial em abril: as vendas cresceram 10,41% em relação ao mês anterior.
Mesmo em relação a abril do ano passado, as vendas do mesmo mês neste ano aumentaram 5,69%.
Em resumo, abril de 96 foi o segundo melhor mês para vendas industriais desde a implantação do Plano Real, segundo a Confederação Nacional da Indústria, que divulgou os dados nesta semana.
Sem digitais
Tudo tem de ser feito para não deixar "impressões digitais", como dizem alguns importantes aliados do governo.
Para todos os efeitos, as medidas sempre serão tomadas a pretexto de dar continuidade ao Plano Real.
No caso de uma emergência, como uma queda forte de popularidade de FHC, esses pruridos poderiam ser deixados de lado.
Segundo a Folha apurou, não está completamente descartado um reajuste salarial para os funcionários públicos federais.
Até agora, os servidores públicos não tiveram aumento. Se houver necessidade de reajuste de salários, o presidente já tem um argumento pronto.
FHC vai dizer que um simples aumento de 10%, no início do ano, teria gerado uma despesa adicional de R$ 4 bilhões para o seu governo em 96. Já a concessão de um reajuste no último trimestre do ano consumiria menos dinheiro.
Ou seja, a lógica do presidente será sempre permeada pela questão econômica.

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