São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crescimento pode trazer déficit comercial e prejudicar plano

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o governo FHC resolver aquecer a economia, por razões eleitorais, poderá estar comprando com isso um perigoso risco econômico: a volta de déficits expressivos no comércio externo.
E esse aquecimento nem precisa ser muito intenso. Isso porque as importações de janeiro a maio deste ano, excluídos automóveis, estão no mesmo nível do início de 1995, quando a economia estava superaquecida.
Como neste ano, ao contrário, a economia veio bastante desaquecida, é certo que as importações estão num patamar elevado. Qualquer aquecimento extra, portanto, resultará num aumento imediato de importações.
Essa é a avaliação do economista Ricardo Markwald, coordenador de projetos da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
Com o aquecimento da economia, diz Markwald, devem crescer as importações de bens de capital, máquinas, equipamentos e matéria-prima, para sustentar o aumento da produção.
Em tese, essas importações são positivas. Significam investimento e modernização.
Ocorre que o país não pode, neste momento, fazer déficits expressivos no comércio externo. Isso porque, na outra conta externa importante, pagamento de empréstimos, juros, seguros, royalties e remessa de lucros, o Brasil já vai fazer um déficit em torno de US$ 16 bilhões neste ano.
Se a isso se acrescentar um déficit comercial expressivo, é sinal de que as contas externas estão em deterioração. Isto é, sinal de que o país estaria numa rota de perda de dólares em proporção alta.
É a ameaça de crise externa de que têm falado os economistas que criticam a política de juros altos e dólar barato do Plano Real.
Para esses economistas, o plano está justamente nessa encruzilhada: a inflação fica no chão com a atual política de juros e câmbio, mas com crescimento baixo. Se houver mais crescimento, pode haver crise externa.
A saída? Ajuste das contas públicas e desvalorização do real.
Para Markwald, o crescimento das importações deveria ser respondido, primeiro, com estímulos e incentivos às exportações.
Muita coisa pode ser feita rapidamente, acredita o economista. Mas, para ele, de todo modo, o governo deveria promover, ao mesmo tempo, uma pequena valorização do real ao longo deste ano.

Texto Anterior: Serra deverá ser o principal beneficiado
Próximo Texto: Cresce emprego em obras públicas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.