São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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A doença política

JANIO DE FREITAS

A persistência do ministro Adib Jatene, batalhando até contra os imediatos de Fernando Henrique Cardoso que, é óbvio, não costumam agir politicamente por iniciativa própria, chega a suscitar más interpretações. E, no entanto, é de coerência absoluta com a dedicação de Jatene aos princípios e ao talento estupendo que o consagraram na medicina.
Jatene tem a convicção de que, dispondo de recursos, pode dar novo destino à assistência médica. Assim como sabe, por experiência, que das principais figuras do governo não pode esperar que atentem para a saúde pública a ponto de a proverem das verbas necessárias.
Jatene está na última etapa de seu longo esforço para ver aprovada no Congresso a CPMF, que, pela apropriação de 0,25% da movimentação financeira em geral, daria ao Ministério da Saúde os recursos básicos que os economistas do governo não lhe concedem. Os corações e as mentes dos peessedebistas são exclusividades dos banqueiros, ainda mais se com parentesco ou relações funcionais passadas.
Fernando Henrique Cardoso faz, enfim, a afirmação categórica de seu apoio à CPMF. Kandir, sempre contrário, diz que se tornou favorável, o que é admissível porque virar casaca é o segundo traço mais marcante de sua atividade pública (não esquecendo que o primeiro é o assalto, pelo Plano Collor, à poupança e às contas bancárias). Como parcela principal do governismo no Congresso, porém, o PFL previne que não apóia a CPMF, alegando que contraria seu programa no capítulo redução de impostos.
Por trás dos apoios que ora se afirmam e ora desaparecem, das negativas de apoio e das sugestões kandirescas de fórmulas diferentes, o que há é unicamente interesse político. Exceto Jatene, nenhuma das partes envolvidas na questão está pensando na saúde pública e na desgraça que ela representa para mais de 100 milhões de brasileiros.
O que está em jogo é um ministério com ramificações profundas em todo o território nacional. E, portanto, capaz de influência política e eleitoral imensurável. Mas tal ministério não está entregue a político. Logo, não presta serviço político à Presidência nem aos dirigentes dos partidos governistas. Um desperdício. Nas mãos de um obsessivo da saúde e, o que é mais estapafúrdio, da saúde pública.
Comunidade eleitoral
O governo vai triplicar o número de municípios já beneficiados pelo Comunidade Solidária, fazendo chegarem a uns mil. Olha aí, tudo pelo social, que negam tanto ao governo. Mas, no Congresso, todo mundo entendeu logo que é tudo pelo eleitoral.

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